quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O VIOLENTO JOÃO VERMELHO

Primavera pinta os campos do Tocantins (Fotos: jjLeandro)
As árvores tentam resistir

O homem devasta com o fogo para o plantio

João Vermelho é aliado do aquecimento global

Em plena primavera os campos deveriam estar completamente floridos com a graça dessa árvore que esparge beleza. É época, com o início do período chuvoso, aqui no Tocantins de a flora recuperar-se do estio que castiga a mataria com a ausência de chuvas e a presença nem sempre acidental do fogo, chamado de João Vermelho na zona rural. As primeiras chuvas, coincidentes com a primavera, proporcionam espetáculos da natureza que coloca novamente suas melhores vestes para atravessar a estação da fecundidade.


Não fosse o homem, talvez o espetáculo não sofresse interrupções ou danos. Eu explico. As fazendas de pecuária e agricultura dominam o cerrado tocantinense. Muitas delas aguardam ansiosamente a chegada da estação chuvosa — por aqui uns seis meses — para recuperar os pastos de capim para o gado castigados pela seca. O capim arde com o fogo, o chão estiola e fica preto de cinza e fuligem. Em poucos dias, com as chuvas regulares, o capim rebrota vigoroso, verde e tenro (babugem), muito apreciado pelo rebanho emagrecido.


Numa pequena porcentagem, também o pasto fica livre de pragas e ervas daninhas recentemente nascidas. É a forma mais barata, embora de grande agressividade ao meio ambiente, para limpar o pasto.

Por outro lado, as fazendas que se dedicam à agricultura, quando ampliam sua área para o plantio, em regra, valem-se também da ninharia cobrada pelo João Vermelho — para apressar a limpeza da área derrubada para novas semeaduras. Ele arrasa o chão com sua voracidade e limpa igualmente o talhão.

Ironicamente, enquanto viajava hoje de Babaçulândia a Araguaína, bem próximos estavam a árvore florida, que tenta perpetuar a beleza da natureza, e a ação violenta do João Vermelho, sequaz do homem que amplia seus domínios sem condescendência sobre ela, fazendo o verde migrar do cerrado para seu bolso.

Até quando?
jjLeandro

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