quinta-feira, 10 de junho de 2010

NOMINATA

Vuvuzela
                                                                                      Jabulani

Fotos: http://phobian.blat.co.za/files/vuvuzela-167j.jpg - http://blogoffside.files.wordpress.com/2009/12/jabulani.jpg



A mídia tem grande influência sobre as pessoas, especialmente as que não estão preparadas para lidar com o bombardeio diário de informação. Explico: quando há maciça cobertura em curto espaço de tempo, como para a escolha de um novo Papa, um nome costuma gravar-se indelével na cabeça das pessoas, marcando o episódio. Nove meses depois da unção de João Paulo II nasceu uma infinidade de Karol mundo afora; recentemente, muitos Josephs com Bento XVI. Na minha meninice, lá por fins da década de 1960, no Maranhão, houve um amigo de meu pai que deixou a família em órbita: o filho dele chamou-se Apollo 11 da Silva; era época da epopeia americana na Lua. Durante o domínio de Ayrton Senna na Fórmula 1, e especialmente com sua morte traumática, os Ayrtons surgiram velozes, como o piloto, por todos os rincões do Brasil.


Agora é a vez do futebol. É Copa do Mundo da África do Sul. Em todos os horários da TV, em todos os centímetros quadrados dos jornais, em todos os pixels das telas dos computadores ligados à Internet só se fala em uma coisa: futebol!


Fiquei tão preocupado, pelos antecedentes, que comentei com minha esposa:


— Será qual vai ser o nome do filho da Jane e do Horácio?


Minha mulher não tinha a mínima ideia. Jane é atendente no hospital onde ela trabalha; Horácio, seu marido e um pedreiro de boa colher. Esperavam o primeiro filho e, numa afetação comum aos pais de primeira viagem, quando o médico quis falar o sexo da criança, eles se opuseram; taparam os ouvidos e protestaram negativamente. Contentar-se-iam se estivesse tudo bem. E estava. Pois bem, doutor, queremos surpresa, comunicaram. Menino ou menina, só queremos saber quando nascer. Para corroborar suas convicções, capricharam num enxoval amarelo.


Mas lhes faltava um nome. Aí estava o maior nó. Compraram revistinha com um rol de nomes e significados, mas nada. Nada os contentava. Nem os palpites dos vizinhos e amigos que tentavam ajudá-los ao verem a aflição que os consumia. Afligiam-se em dúvidas quando a mídia começou o bombardeio da Copa do Mundo.


Um dia Horário, que chamei para fazer uns retoques no muro de casa, saiu-se com essa, todo alegre:


— Se for menina, será Jabulani.


Meio atordoado com a excentricidade, demorei a entender e questionei incrédulo:


— O quê?


— A minha filha, ora bolas!, quem mais podia ser? A Jane está de acordo.


Murchei o sorriso. Logo ataquei com perversidade, para embaraçá-lo.


— E se for homem, já tem um nome?


Ele fechou a matraca. Nem um pio. Era ainda uma incógnita o nome para a criança do sexo masculino.


Ontem, minha esposa chegou do trabalho morrendo de rir. O assunto lá era a Jane.


— E por quê? —— perguntei curioso.


— Não é de ver que a surpresa no parto foi grande.


— Mesmo?


— Sim — ela confirmou ainda sem conter o riso.


— Jane é boa parideira, vieram logo duas meninas.


— Nossa, então eles se enrolaram. Só tinham um nome: Jabulani. Quando escolherão o outro?


— Aí é que você se engana, já escolheram. Foi de bate-pronto, como no futebol.


— Jura? E qual é?


— Vuvuzela.

 
 
jjLeandro

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