terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

REBELDIA ATÉ ENTRE OS POEMAS, VEJAM SÓ!!

O POEMA ÓRFÃO


O poema escorrega
Da ponta do lápis,
Salta ágil ao chão,
Em meu rumo dá um passo
E fere-me num soco
Com a mão.
Mão que o criara para os abraços.
Que mal-agradecidos
Os filhos são!
Critica-me os erros
De português,
A pieguice
E outros defeitos
Com que lhe fiz.
Caminha para a rua,
Mas antes me diz
E logo depois se vai:
Prefiro ser órfão
A te ter como meu pai!



Esse poema surgiu enquanto viajava pela internet em busca de portais de literatura. Saí em um cujo nome era "Na ponta do lápis". Quando li o nome, imediatamente o poema surgiu em minha cabeça. Rápido digitei-o, e ele, rebelde, fez o que fez. Sei que nasceu prematuro - o coitado -, mas mesmo teratogênico o pai não deve segregar o amor. E isso nunca fiz, deixo claro a todos que me possam estar culpando. Apesar das deformações (como ele disse-me à cara, culpando-me, para mim são apenas diferenças!), quero-o de volta. Sou seu pai e sei que nenhum outro autor vai entendê-lo e, por conseguinte, adotá-lo. Hoje estou a sua procura, tentando que se converta, que volte a casa, que seja um filho pródigo. Não tenho notícias dele, se alguém souber de seu paradeiro, por favor (isso é súplica de pai!) envie-me um email que agradeço bastante. Houve um amigo, na melhor das boas intenções, que sugeriu ir a um programa de tv, desses que expõem foto e tudo, fazer um apelo e quem sabe algum vizinho possa alertá-lo sobre o pai em desespero. Mas esses programas são sempre sensacionalistas, abusam de nossa miséria em busca de audiência e das lágrimas alheias. Tenho medo que agindo assim o feitiço vire contra o feiticeiro e ele me odeie mais ainda. Mas me valho da internet, sem mais exposição que a minha e de meu sofrimento - o que não fazemos pelos filhos, ainda que mal agradecidos, como se vê -, na tentativa de que reconsidere a sua rebeldia.
O meu medo é que se meta em más companhias e se perca. Já ouvi falar de tantos poemas que são um terror, alguns assassinos, outros ladrões, outros tantos drogados e traficantes. O meu medo é esse: que se meta com essa gente, imaginando sua companhia como válvula de escape, mas na realidade estará cavando a sua sepultura. Quanta insônia com esses tormentos. Quando retornar, se retornar, direi que até meu apetite sexual embotou, não levanto mais o lápis para escrever uma vírgula, tudo é ponto final. Depois que ele se foi, nenhum outro nasceu!
Até quando minha vida será uma página em branco?
(enxugo as lágrimas)
Mas tenho um alento se não se tiver se metido numa enrascada, vitimado por uma bala perdida comprando droga em favelas (por que só pensamos o pior, sempre?), se o metrô de São Paulo não o tiver tragado naquele fatídico buraco, se não tiver entrado para a política(meu Deus, isso não!), se não tiver querido fugir para Campinas para jogar no Guarani(seria descer ao terceiro inferno - a terceira divisão), se não tiver acertado os números da mega-sena, casado com uma baranga - dessas que nos arrancam os olhos e as unhas - e ela o tiver assassinado com a ajuda dos amantes, alguém avise-o que estou muito doente e tenho que cuidar da herança.
Ele vai entender, eu sei, vai se deslumbrar com um mundo sedutor. Uma biblioteca com mais ou menos uns vinte mil volumes. Livros com capa dura e letras de ouro, quanto ouro(isso atiça o seu amor, tenho certeza!), muitos maravilhosamente encadernados. E os contos e as poesias? Humm! Sei que na vida que leva, com certeza de desregramentos, já deve conhecer o excitante mundo do sexo. Filho, chega cá, ouve isso: são tantos contos e poesias com mulheres maravilhosas, mundos fantásticos. Tudo para você. Volta, papai te ama! Vais herdar tudo isso para a esbórnia.

Do pai que nunca te esquece,

O autor




2 comentários:

Osvaldo Barreto disse...

Muito bom!!!
É sempre muito bom chegar aqui e apreciar textos como esse.

PARABÈNS!!!!

João Villalobos disse...

Também gostei deste texto. Um abraço