domingo, 14 de novembro de 2010

Uma visita à UFT

Que sufoco não ser aluno, professor ou servidor da UFT (Universidade Federal do Tocantins) e visitar o campus de Araguaina. Digo isso porque ao menos eles convivem com as armadilhas existentes ali e ‘sabem desarmá-las’ por força de um exercício diário que a sobrevivência impõe-lhes. A coisa piora se a visita for à noite e a pessoa ‘estranha ao meio’. Obriguei-me a isso um dia desses. O resultado: quase fui parar em um pronto socorro com suspeita de perna fraturada. A coisa foi mais ou menos como passo a narrar.
Recebi convite de uma amiga, professora do curso de Letras, para visitar a exposição fotográfica de Emerson da Silva sobre a Roda de São Gonçalo, vertente do trabalho esplêndido do pesquisador Wolfgang Teske com os quilombolas da Lagoa da Pedra de Arraias, tuiteiro como eu, que conheceria ali pessoalmente. Um programa e tanto para quem milita na área cultural e sabe quão raras são oportunidades tais em nossa cidade.
Cometi o primeiro erro ainda em casa ao entrar no carro: era um veículo comum, desses de andar em cidade com ruas asfaltadas. A experiência demonstrou que o local exige um robusto off-road de tração nas quatro rodas. Como o pátio do estacionamento estivesse lotado, encontrei um portão lateral aberto e achei de bom alvitre ir metendo o carro por ali. Foi meu segundo erro. Eu não sabia que o calçamento com pequenos blocos de cimento só ia até pouco depois do portão e por isso não imaginava a arapuca que me esperava. Transpus o portão e imergi na escuridão do pátio: não pude ver o fim do calçamento. Avancei. De repente o carro pareceu cair num despenhadeiro. Leitores, desculpem-me a hipérbole. Mas quem tem a convicção de deslizar num tapete e em seguida sente-se tragado por um vácuo vai concordar comigo. Confuso, abri a porta e procurei o chão. Foi meu terceiro erro. Afundei mais ainda. Talvez não fosse vítima de um despenhadeiro. Quiçá estivesse sendo sugado por um buraco negro.  Hipérboles à parte, a língua portuguesa, coitada, ainda não inventou uma figura de linguagem capaz de expressar a situação. À falta de algo mais forte fiquemos com a hipérbole mesmo que transformada em eufemismo.  
Alguns alunos socorreram-me. E foi a minha salvação. Tiraram-me de dentro do buraco onde eu segurava a perna dolorida pelo pisão em falso. Outros voluntariosos levantaram a frente do carro e forçaram-no para trás. Foi novamente posto na horizontal.
Ainda atordoado, desculpei-me:
—Gente, acho que invadi o canteiro de obras e destruí a vala que vai receber as manilhas da galeria pluvial.
Um aluno galhofeiro deixou fruir sua verve:
— Ou você é um gozador ou está desinformado: você caiu nas voçorocas que nos vão engolir um dia por erro na construção do Campus e falta de pavimento no pátio.
Respirei aliviado por não ter causado prejuízo ao patrimônio público.
— Menos mal, pensei que era uma obra.
E ele tornou, zombeteiro:
—  Obra nada, é cagada mesmo.

jjLeandro
Fotos: Pátio interno da UFT (Araguaina)

2 comentários:

Val Araújo disse...

KKKK. Esse estado calamitoso é para combinar com o restante da cidade. Afinal, o mundo capitalizado exige combinações. Ótimo!

jjLeandro disse...

Lamentavelmente é uma realidade. A da UFT e a da cidade.