sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SERÁ QUE ELE MORREU?

Há dias não publicava nada aqui. Enlanguescia. Fazia o percurso contrário da maioria das pessoas que tentam jogar fora as vestes do ano velho e buscam no Ano Novo leves vestes que as tornem mais ágeis e bem sucedidas.

Não ligo a mínima para essa balela de “ano novo, vida nova”. Temo nesse jargão muito mais a armadilha consumista: “mude tudo! Vá às compras, qualquer renovação começa com gastos perdulários esvaziando o seu bolso, não percebe?!” Quem já pensou nisso?

Mas não foi por causa do Ano Novo que enlanguesci e perdi minhas forças. Sei lá, acho que havia dado férias à criatividade que, admito, tanto suguei anos a fio. Talvez inconscientemente buscasse recompor-me da débâcle de uma ininterrupta exploração intelectual. Há horas que tudo pira, acho que ia por esse caminho.

Mas tantos dias sem publicar trouxeram-me um incômodo, confesso: os poucos que me lêem (isso já era com a reforma ortográfica, mas ainda mantenho o acento porque nesse primeiro momento, sem ele, a maioria acharia que era um erro meu!) poderiam pensar o pior. “Será que ele morreu?”

Sim, aqui na Internet uma interrupção brusca da parte de quem é assíduo publicador é interpretada como morte por muita gente. Ferroou-me agora a curiosidade de como seriam as reações. “Coitado dele! Era tão perseverante e já morreu.” Outros seriam mordazes: “ih, já se foi e nem teve tempo de aprender a escrever direito!” E alguns mais cruéis: “esse não vai mesmo fazer falta, nem com todo o tempo do mundo aprenderia a escrever!”

Mas não foi por isso que resolvi preencher a lacuna que o calendário poderia transformar em uma incógnita. Nesses dias sem escrever uma vírgula andei pela casa como um zumbi, parecia a procura de algo que não perdera mas me fazia falta. Não me aquietei diante da TV assistindo aos jornais com as notícias do genocídio que o Exército israelense perpetra em Gaza contra o povo palestino e vergonhosamente o Ocidente aquiesce; não me contentei também em ir à biblioteca e ler em Schopenhauer a descrença com o ser humano da qual compartilho. Nem observar solitário o sol que agoniza ao final do dia por trás do muro do fundo de meu quintal. Faltava algo mais, transcendente a tudo isso. Quem primeiro me deu uma pista foram os meus dedos quando folheava recostado na cadeira da área de minha casa um velho livro de viagens. Pareciam querer digitar no papel. Inaceitável, objetei imediato, estou em fase de recuperação. Isso leva tempo, não vê Ronaldo o Gordo, recuperando-se lentamente no Corinthians? Preciso de tempo.

Quem disse que isso adiantou? Eu não disse! Fui quase arrastado por uma força indômita para diante do computador, e só senti-me pleno quando comecei a digitar essa crônica. Só agora descobri que em mim escrever é um ato involuntário, mas enfim compensador e muito prazeroso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não deixe de postar em seu blog. Tenho parentes aí em Araguaína e a única forma de saber como anda a cidade em que estão é pelo seu blog hehehe. Me chamo Fernando, sou de Pato Branco - PR. Valeu.

Benny Franklin disse...

Leandro,

aqui deixo registrado toda a minha admiração por sua obra.

Forte abraço,

Benny Franklin

Sheila disse...

Leandro,
A sensibilidade transborda da alma do artista...ele precisa dar forma à explosão de impressões que sua alma distinta pode captar.
Ai... ainda bem que o mundo não precisa ser tão preto e branco...