sábado, 10 de fevereiro de 2007

HUMMM!! AS DENTISTAS!!


Detalhe da boca do tubarão branco - Um predador que não vai ao dentista. E será que algum dentista lá ia querer enfrentar o bicho? (Colhida da internet)
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VISITA AO DENTISTA



Nosso medo de dentista é algo histórico. Talvez porque os primeiros deles tenham sido barbeiros que, àquela época, com métodos hoje considerados mais próximos da tortura que de uma ação lenitiva, barbarizaram sem querer os pacientes.
Trato do assunto a propósito de um amigo meu – recalcitrante quando o assunto era dentista – que recentemente se viu às voltas com um e depois me relatou o acontecimento. Silencio-me sobre o nome para evitar que pague um mico como se diz hoje. Ele não é mais uma criancinha que é arrastada ao consultório pela autoridade paterna. Aliás, é casado há pelo menos vinte anos. E precisava ir: um dente incomodava e não tinha saída. Enquanto protelava, fingia pesquisar entre os inúmeros atendentes pelo seu plano de saúde o que melhor lhe convinha. Era um estratagema para ganhar tempo sem que a covardia o incomodasse. Nesse mister consumiu dias. Procrastinou o quanto pôde e só cedeu quando a dor apertou. Rendeu-se afinal porque os paliativos e remédios caseiros não mais surtiam efeito. Optou na marra pela cadeira do dentista à insônia quando o maldito dente doía.
Entre os critérios para seleção achou justo dar maior peso à proximidade do consultório de sua casa. E já que julgava ir sofrer bastante, optou então por sofrer nas mãos de uma mulher. Judiciou ser um sofrimento mais brando e sem riscos de num pique de dor querer sair na bruta com o profissional. Resignou-se em ir a qualquer uma, por não haver maneira de descobrir a idade nem a beleza da dentista, o que seria agradável. Na única tentativa que fez, a atendente do outro lado da linha respondeu áspera: “O senhor tem certeza que procura uma dentista? Não seria uma agência de matrimônio?” Por isso, pôs o rabo entre as pernas, confiou na sorte e fez a opção. Iria a uma dentista a dois quarteirões de sua casa. Nesse momento culpou-se por não ser um ‘tantinho’ mais observador, afinal o consultório era na mesma rua de sua casa e a apenas dois míseros quarteirões e nunca suspeitara que ali tivesse uma dentista. Mas sua consciência absolveu-o rapidamente com uma desculpa simples: “Eu lá sabia que um dia iria precisar de um deles?!”
Com todos os procedimentos ajustados, foi lá. De cara ficou surpreso com o ambiente asséptico e a luz acolhedora. Ar condicionado, duas atendentes risonhas e gentis. Pintura alegre e nova nas paredes. Sofás confortáveis. Revistas sobre a mesinha de centro. Água e café sobre o balcão. E o que mais o surpreendeu: pacientes despreocupados, sem cara de quem se encaminha para a câmara de gás. Pensou: “Calma, ainda não é hora de se render às aparências”.
Foi arrancado de suas meditações de forma abrupta, que fez o coração disparar, quando a atendente chamou seu nome. Era a sua vez. Depositou lentamente sobre a mesinha a revista que folheava sem interesse e seguiu-a angustiado por um corredor. Teve outro choque quando viu a dentista. Esse foi reconfortante: era jovem e bonita. As luvas de látex que já lhe cobriam as mãos impediram-no de diagnosticar o seu estado civil. Mas ele foi agraciado com um gentil sorriso que a máscara rapidamente cobriu. Antes, porém, respondeu a uma pergunta de praxe: “Senhor, há quanto tempo fez a última visita a um dentista?” Meditou um pouco e declarou envergonhado: “Não me lembro de quando a mamãe disse que foi”.
Literalmente deitado na cadeira, ele relaxou e quase dormiu. Seu pensamento dava voltas e chegou até a imaginar-se casado com a dentista. Tornou a si quando ela disse educadamente que precisaria extrair o dente que o incomodava. Aliás, dizer assim era um elogio. Não era mais um dente, mas o ‘caco’ que sobrou dele. E não ligou muito à polida reprimenda que ela lhe deu quando disse que devia ser mais assíduo ao dentista. Pensou com seus botões: “Virei outras vezes aqui”.
Voltou no dia seguinte mais alegre e descontraído para a extração. Foi recebido como de praxe com atenção e afabilidade. Até arriscou contar uma piada insossa para a dentista, tão velha quanto os seus gastos dentes, que ela sorriu – como se diz – para não perder o cliente.
Extraiu o dente e voltou para casa com o tratamento já encerrado.
Mas surpreendentemente, um dia após olha ele lá no consultório de novo com a cara mais lavada do mundo. As atendentes sorriram gentis e quiseram saber o motivo da inesperada visita. Ele disse com cara de gato que bebeu o leite: “Acho que ficou aqui – e apontou para a boca – uma ‘raizinha’ que a doutora esqueceu de arrancar”.

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