quarta-feira, 6 de junho de 2007

TERRA DOS PAPAGAIOS


A propósito de Chávez e papagaios

Ornitologicamente, os papagaios são belas aves coloridas, alvissareiras, e que involuntariamente sempre deram as penas do rabo aos indígenas. A beleza plumária dos psitaciformes subiu à cabeça dos índios ainda em tempos imemoriais.

Na semana passada a bela ave esteve no meio do fogo cruzado entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e os congressistas brasileiros. Tudo porque o mandatário bolivariano disse que nossos ilustres parlamentares são meros “papagaios de Washington”, quando estes, através de um comunicado, pediram a Chávez que permitisse a volta ao ar do canal de tv RCTV, cuja licença fora caçada pelo governo.

A bem da verdade, quando Cabral aportou por aqui, encontrou-os aos milhares e seu escrivão Pero Vaz de Caminha, na famosa carta, que dizem ser a certidão de nascimento do Brasil, fez referência aos papagaios em várias ocasiões. Nas mímicas para serem entendidos pelos nativos, Caminha relata que os portugueses “mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali”. No escambo em terra com os índios, os portugueses levaram para bordo “papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes”. E mais adiante se extasia com a abundância deles: “Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito”. Certa feita, ali pelo século XVI, um cronista, cujo relato de viagem chegou anônimo até nós, declarou sobre os infaustos papagaios: “Coitados deles, são constantemente depenados pelos indígenas, como os agiotas fazem aos homens de bem em nossa terra; e isso é sorte grande quando se sabe que também costumam virar alimento. Protestam numa linguagem áspera, dura, que não entendemos, e é a mesma de seus donos”. Numa clarividência de arrepiar, ele vaticinou: “Será que essa terra na qual um dia se formará uma nação, levará do berço essa maldita herança da usurpação?”

Pela presença de papagaios, por muito tempo, o Brasil, que foi um dos países com a maior incidência de alcunhas – já foi Terra de Vera Cruz e de Santa Cruz -, até que se firmasse o nome atual, foi também a Terra dos Papagaios.

Politicamente falando, e isso é o que mais nos interessa agora, o papagaio é tão malvisto quanto a inofensiva laranja (também ela merece um estudo a respeito dessa discriminação). Talvez porque seja vistoso (fácil de identificar num país que gosta das coisas à socapa), ou porque os políticos inexpressivos não se furtam descaradamente de postar-se atrás dos mais famosos nas entrevistas, para serem notados. É o tradicional papagaio de pirata. Ou ainda porque papagaio é mera caixa de ressonância do que lhe ensinam e decora. Acho que foi aí que a coisa pegou com o Chávez. Tão deselegantemente ele declarou que nossos congressistas são “papagaios de Washington”, ou seja, repetem o que lhes mandam. O presidente bolivariano, como se intitula, queria dizer que nossos homens de Brasília sem convite, nem chaves, acharam-se no direito de invadir a sua casa e meter a colher no explosivo caldeirão venezuelano. Tudo por conta de um canal de tv tirado do ar, que Chávez jura que lhe tentava sabotar continuamente. Também os venezuelanos têm direito de saberem o final de sua novela preferida.

“Currupaco papaco”, diriam os papagaios cabralinos com a falta de elegância de Chávez. Mas, malgrado a indelicadeza dele, tudo que nosso Congresso não pode desejar agora é uma polêmica gratuita, muito menos o comparando aos membros da ordem dos psitaciformes.
Essa de atrair os holofotes, aqui dentro e lá fora, pode expor ainda mais as suas mazelas e prejudicar igualmente a já desgastada imagem com as constantes acusações de parlamentares envolvidos em corrupção, acusação contra o presidente do Senado de valer-se de empreiteira para pagar pensão de filha fora do casamento, e a idéia desabonadora que o eleitor tem de uma Casa com pouco trabalho e muito salário.

Embora goste muito da ave, não desejo nem gostaria que o Brasil voltasse a ser chamado Terra dos Papagaios. E para isso, entre outras providências, já que temos muito serviço por aqui, não é de bom alvitre meter o bico onde não é chamado. Que tal, em vez disso, arregaçar as mangas e mãos à obra aqui mesmo?
jjLeandro

4 comentários:

un dress disse...

os que têm asa...

e só esses!!

são


magníficossss!!! :)

Anônimo disse...

os papagaios seoiqwjiacsmiur

Anônimo disse...

os papagaios seoiqwjiacsmiur

Anônimo disse...

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