sexta-feira, 27 de maio de 2011

A ORELHA DE BELÉM









Meu tio paterno caçula chegou de Belém. Meu pai recebeu-o como a um filho pródigo, os olhos verdes brilhantes revelavam o carinho que tinha pelo irmão mais moço deixado sob seus cuidados anos antes pelo meu avô Joãozinho numa viagem do agreste pernambucano a Carolina em visita ao mais velho dos filhos. Para os sobrinhos, recebíamos um herói. E tudo porque nos dias anteriores a sua chegada ouvíamos pelos cantos da casa fiapos de conversas segredadas entre meus pais, revelando lances cinematográficos da vida atribulada dele na capital paraense onde era radiotelegrafista de uma empresa aérea.
Os telegramas dando conta de sua volta mudaram o clima em casa. Meus pais tornaram-se pressurosos, embora nada dissessem aos filhos além da frase que lhes abria um sorriso forçado: ‘seu tio vai chegar’. A solicitação de maiores detalhes transformava ligeiro o difícil sorriso em careta apreensiva que antecipava a negativa: ‘Só isso basta’.
Especialmente para mim, pelos cochichos e pela tensão que meus pais tentavam disfarçar, o retorno dele não obedecia a plano algum pré-estabelecido. Inseria-se no rol das emergências. E por quê? Não era assunto que interessasse a crianças diziam-nos constantemente.
No dia em que chegou a casa amanheceu em polvorosa, minha mãe no comando das empregadas ultimava os preparativos do que parecia ser a recepção a um soldado que voltava são e salvo da guerra. A tensa expectativa dos últimos dias cedia lugar à felicidade incontida. Flores enfeitavam a casa desde a mesinha de centro na sala à grande e pesada mesa da cozinha. Os quartos foram arejados e fumigados com alfazema. Para mim, que seguia os passos de minha mãe e das empregadas no preparo da casa, iam receber o bispo.
Na hora de ir ao aeroporto do Ticoncá, pegamos um táxi na praça. O voo de Belém era para o final da manhã, mas a ansiedade foi aguilhão que nos tocou cedo para lá. E ninguém reclamou a espera de duas horas. Fiquei o tempo todo com um olho na pista e o outro nos velhos caças da FAB, sobreviventes da guerra mundial repassados pelos americanos ao Brasil após o conflito, que constantemente faziam escala na cidade em suas andanças de Belém ao Rio de Janeiro. Achava-os soberbos espetando o céu com o nariz petulante. As proezas da guerra autorizavam, sem deixar margem a questionamentos, a imponência que ainda exibiam os velhos aviões.
Por fim o barulho da aproximação do avião de Belém agitou o saguão do aeroporto e fez-me esquecer os velhos caças. O tio chegava. Minha mãe obrigou-nos a uma postura quase marcial para recepcioná-lo que chamava atenção das outras pessoas. Algumas queriam rir, outras admiravam nossa obediência. Ele passaria a tropa em revista. Eram cinco sobrinhos crescidinhos e outros dois de colo. Uma altiva guarda de honra esperava-o perfilada.
Ele desceu do avião e foi reconhecido ainda à distância na pista entre os outros passageiros. Meu pai apontou-o. A guarda de honra dissolveu-se em tumulto. Corremos a seu encontro desrespeitando as regras do militarismo familiar. Ele não teve braços para tantos abraços simultâneos. Rendeu-se imóvel preso entre os sobrinhos. Ávidas mãos procuravam seus dedos para segurar, disputando-os com alças de malas e sacolas. Fomos até meus pais como uma gigantesca e desajeitada aranha cujo corpo era meu tio e os sobrinhos as patas.
Em casa, a tietagem continuou e meu tio mantinha-nos permanentemente excitados a sua volta como um enxame de abelhas. A intervalos regulares, com gestos automáticos enquanto conversava com os adultos, retirava de um bolso lateral da calça, de um bolso traseiro, ou do bolso do blusão de aviador que ainda vestia sobre a camisa Volta ao Mundo de cor berrante, balas, pirulitos e chocolates. A nossa agitação quase tornava impossível a conversa familiar. Enquanto não vinha nova rodada de guloseimas, entretínhamo-nos com as outras novidades da capital. Um sobrinho puxava curioso a pulseira sanfonada de aço do relógio em seu pulso, outro brincava com o isqueiro de metal, imitando-o no ritual de abrir a tampa e correr o polegar sobre a pedra para acender o cigarro. Fechar o velho Zippo provocava um ‘clic’ da tampa que nos alegrava. Eu não parava de esgaravatar os seus bolsos a procura de mais balas e chocolates. Procurando no bolso interno do blusão de couro, saí em cima da razão de sua volta precipitada a Carolina: a foto de uma orelha decepada. Não era dele com certeza, pois as suas duas estavam certinhas em seus lugares.
Meus pais, óbvio, sabiam o que aquilo representava. Tomaram-na de minha mão e puseram-me de castigo. Os outros irmãos, livres de punição, foram mandados para a sala com as empregadas.

Só muito tempo depois eu conheci a história da foto.
Nas muitas andanças pelo centro comercial de Belém atrás de prostitutas, jovens como meu tio brigavam comumente. Aos vinte e dois anos ele se meteu numa briga com outros frequentadores de bordéis. No tumulto da briga, os colegas abandonaram-no à própria sorte cercado pelo grupo rival. Valer-se dos resistentes dentes que quebravam rapaduras no agreste pernambucano foi a maneira que encontrou de livrar-se de tremenda sova ou coisa pior. Resoluto, procurou a orelha mais próxima no bolo de cabeças que tinha sobre si, abocanhando-a por inteiro. A forte mordida tensionou os músculos do queixo a ponto de doerem. O gosto ferruginoso que lhe encheu a boca e o grito lancinante do oponente desfizeram o tumulto num instante. O rapaz perdera a orelha. Os colegas afastaram-se dele horrorizados. Após um segundo de hesitação, recolheram o ferido e abandonaram o ringue.
Meu tio correu desesperado. Perturbado, fugiu cerca de dois quilômetros por galerias pluviais e bueiros sem se dar conta de que a orelha continuava na boca. Ao parar estafado, a respiração ofegante, lembrou-se dela. Cuspiu-a na mão com grande nojo, mas como chegara até ali com ela, enrolou-a no lenço, guardando-a no bolso da jaqueta como um sinistro troféu. Tinha em casa uma Leica alemã, com ela fez uma chapa fotográfica da orelha. Depois jogou-a no vaso sanitário. Por medo de ser descoberto, só revelou a fotografia na véspera da viagem a Carolina.
Chegou com ela no meio dos pertences como souvenir. Ou como sinal de alerta a lembrá-lo dos lugares que poderia frequentar com isenção de riscos.
Foi assim entre pirulitos, balas e chocolates que encontrei a orelha de Belém. 


jjLeandro

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O DELÍRIO DAS CINCO DA TARDE

A morena misteriosa passava diante de mim, à frente da casa de minha avó, todos os dias. Inicialmente, tive dúvida se não ficava diante do relógio esperando as cinco da tarde para sair à rua. Nunca soube ao certo, mas passei a imaginar que era inteligente o suficiente para fugir do sol escaldante do início e meio da tarde em suas incursões exibicionistas na rua das mangueiras.
Ela invadiu minha vida, depois os meus sonhos. A tal ponto que alguns meses depois não sabia se a vira na rua ou sonhara; outras vezes sonhava jurando tê-la visto na rua. E como eram habituais os sonhos e as aparições reais, sentia uma sensação de atordoamento dominar-me quando sonhava com ela à noite e à tarde ela se apresentava na rua com a mesma roupa. Inúmeras vezes assim coincidiram realidade e sonho. Além disso, ficava a sensação de os dias sucederem atropeladamente aos pares ou então a confusa impressão de sonhar um sonho duas vezes na mesma noite.
Certo é que a morena me enlouquecia, eu entrava em parafuso a cada aparição sua. Como não dava vazão ao sentimento novo que experimentava — o amor, sim, eu me apaixonara platonicamente por ela —, vivia um verdadeiro inferno de práticas onanistas.
Lembro como foi duro, terrível mesmo, consumir-me na expectativa da aparição dela naquela quarta-feira de agosto. Desejava ardentemente uma vez mais a coincidência de realidade e sonho. De antemão um esclarecimento para melhor dimensionar o absurdo de meus propósitos: o neófito no amor, tampouco o adolescente apaixonado deveriam acreditar no que eu esperava acontecer, porque a experiência de vida aos dezessete anos é suficiente para assegurar que aquilo era delírio. Mas vamos lá, a soalheira dos trópicos às vezes deforma mentes sadias, quiça ela tivesse sido afetada. No fundo, acho que minhas magras esperanças se resumiam a isto.
Ao levantar na quarta-feira de uma noite estrebuchada entre sonhos lascivos, amarguei a humilhação de sentir o calção úmido, manchado. Agora mais essa! Já não tinha mais vontade própria, a morena era senhora de mim, sim, movimentava a seu bel-prazer meus cordões de marionete. A polução noturna era prova cabal do domínio que exercia sobre mim. Quase caí em desespero. Que ninguém levasse ao pé da letra as sandices que imaginei, verdadeiras explosões de raiva impotente que me doeram a cabeça: ‘amputem-me as mãos —  como aos ladrões nos países muçulmanos — já que não preciso mais delas’.
A ducha matinal recompôs-me a paz, ganhando função extra além de lavar-me do ranço dos suores noturnos.
No café da manhã fui espartano, a morena como se apresentara no sonho parecia desfilar sua beleza na borda da xícara, inibindo meu apetite. Deitava o corpão no guardanapo de mesa, lançava-me beijos sentada no pires de pernas cruzadas.
Ixe!, minha avó, também à mesa, comentou o óbvio:
— Levantou, mas continua dormindo.
Meu avô defendeu-me, intervalando as palavras com pigarros asmáticos:
— Deixa o menino, nessa idade a cabeça anda nas nuvens.
Passei a manhã esperando as cinco da tarde. Procurei entreter-me além do comum, para que o tempo viajasse de trem-bala.
Como estudava à noite, quando não havia prova obrigando-me a me debruçar sobre os livros na mesa da sala grande ao lado do caramanchão de buganvílias, corria de uma ponta a outra do balcão da loja de tecidos de meus avós. Ali sim o tempo espichava que nem os elásticos que vendia para as mulheres; um dia valia dois.
Driblei-os, pois, alegando prova à noite.
—Fica aí na sala — disse minha avó, levantando-me da mesa na companhia do marido.
Um suspiro de contentamento deu-me a certeza que conseguiria encurtar o tempo; as cinco da tarde chegariam velozes naquele dia.
Decide esperar a hora de forma melodiosa, que tal música?
Ainda não apresentei a morena anatomicamente, ficar repetindo ‘morena morena’ faz cada um, a seu talante, criar um ícone que traduz suas mais íntimas taras e perversões. Felizmente representado individualmente na mente de cada um, ufa! O que seria do mundo se todos saíssem por aí escrevendo como um verdadeiro Marques de Sade? Excogitei essa possibilidade, que todos se sujeitassem ao que também me escravizava. Bem, enquanto Sergio Endrigo me levava a crer que sua Roberta era a minha morena, desejei o déjà vu uma vez mais. Há sonhos que são desejos realizáveis; há sonhos que são deambulações extravagantes da mente, lícito dizer: delírios. A música incitava-me a acreditar no último tipo.
Mas a morena? Bela, sem dúvida. Nunca a descrevi senão a partir do ponto que mais me atraía: as coxas. Grossas, dois pilares roliços, tesos. A cintura de vespa realçava as ancas nervosas de adolescente. A barriga, tão exuberante quanto o resto do corpo, parecia ofuscada pelos seios que, petulantes, saltavam à frente. O cabelo negro, liso, aparado à altura das orelhas, deixava à mostra a nuca alabastrina. Boca, nariz e olhos, sedutoramente desenhados, tinham o poder paralisante de Medusa sobre quem a olhasse de frente.
O toc-toc da agulha do toca-discos arranhando o vinil ao fim da última faixa do LP me fez saber que o tempo voava. A música me lançara aos braços uma plêiade de mulheres de um excitante harém imaginário. Os eunucos que me trouxeram Teresa, Roberta, Manuela, Emmanuelle, Lara e Aline eram ninguém menos que Endrigo, Iglesias, Conniff e Christophe. Ah, seriam elas como a minha morena? Assim se passou a manhã e eu enfrentei o almoço sem tirar as cinco da tarde da cabeça.
A aproximação da hora do desfile da morena deixou-me ainda mais excitado e apreensivo. Ela se apresentaria como no sonho? Deixaria que a beleza radiante de seu corpo me cegasse a ponto de eu alcançar o orgasmo involuntário? Eram dúvidas que me consumiam.
Quinze minutos para as cinco da tarde o telefone tocou. Não era possível um estraga-prazeres na hora H. Corri, atendi. Fone no ouvido, olhos colados na veneziana da janela vigiando a rua por um retalho de fresta. Convite para sair à noite. Não queria papo, veríamos depois, tchau!
Novamente à porta, a esquina da praça — por onde ela apareceria — debaixo da minha mira. Viria, como tantas vezes, o sonho antecipar a realidade? Por um momento envaideci-me ao suspeitar ter poder sobre a subconsciência dela, manipulando suas decisões. Era a única maneira de justificar tanta coincidência. À lembrança, tentei contato uma vez mais. Ainda daria tempo de transformar meu delírio em realidade?
O sol escondeu-se atrás da massa escura das mangueiras da praça, lançando longas sombras no meio da rua. As mães já haviam chamado as crianças para o banho antes do jantar. Não havia mais qualquer delas na rua. As sombras das mangueiras no meio da rua formavam um tapete escuro para o seu desfile radiante.
Ela vem já! Ela vem já!, exultava consultando o relógio.
E ela veio.
Inacreditável!
As coincidências anteriores não passaram de meras coincidências. Ela não apareceu esplendidamente nua como no meu sonho.

jjLeandro

terça-feira, 3 de maio de 2011

MEU PAI FAZIA O DIA NASCER

Imagem: Montagem de jjLeandro

Quando o dia amanhecia para mim, sobre a mesa da cozinha — onde eu tomava café antes da escola — já estava, ainda presa ao gancho, a carne que minha mãe ia preparar para o almoço. Meu pai a trazia do mercado num ritual diário que a escassez do produto em Carolina, e não o vício, ditava. O hábito de vê-la ali foi construindo uma história ao longo de alguns anos, hoje memória, cheia de episódios de contornos irreais, fantásticos, mas satisfatórios e verdadeiros para mim.
Havia diariamente em casa três coisas infalíveis: o sol rubro no fundo do quintal, como os nossos olhos ao acordar cedo, platinando-se com o avanço das horas; eu, testemunha e cúmplice da sua preguiça matinal; e a carne também rubra, exânime, com córregos sanguinolentos escorrendo pela mesa cujas margens moscas ávidas e destemidas rapidamente povoavam, bebendo-os. Engraçado, até os insetos imitam os humanos: migram aos magotes para onde é mais fácil o alimento. Mas eu não deixava nada de graça e travava uma guerra diária contra elas, usando a mão como arma. Piparotes lançavam muitas delas bem distante. Revoavam sobre a carne para logo voltarem teimosas ou inconscientes do perigo. Nova mortandade. A satisfação estampava-me um sorriso no rosto como nos generais que pressentem a vitória quando os seus movimentos de tropas se assemelham a fulminantes jogadas de xadrez que resultam em xeque-mate. Regozijava especialmente quando a arma era uma liga fina de câmara de ar de pneu de carro. O estrago era maior. Sabia que minhas vítimas viravam uma pasta ao serem lançadas distantes de mim. Era o bastante para acreditar na continuidade das conquistas humanas: eu trazia latente o inato sadismo da raça.
Ao sair para a escola o tampo da mesa, campo da batalha desigual, estava repleto de soldados alados mortos. Suas asas eram uma vantagem que não conseguiam usufruir na luta pela sobrevivência contra mim. Restava à empregada, ao limpar a mesa enquanto eu me afastava, olhar-me com carantonha assustadora, que as minhas habilidades telepáticas traduziam assim: ai, que moleque nojento!
Eu não ligava mesmo a mínima para o que ela dizia, muito menos para o que nem chegava a expressar em palavras.
Tinha a mente ocupada por outros pensamentos.
A cor rubra, para mim, associava duas coisas matinais: o sol e a carne no gancho escorrendo sangue. Sabia que o meu pai a trazia todo dia. Levantava cedo, pegava o gancho de metal escuro com quatro quinas feito por um ferreiro da cidade — uma pequena e rústica âncora — e invadia a escuridão da rua. Era com ganchos que os homens iam ao mercado nem bem os galos anunciavam que os quartos das reses abatidas já estavam pendurados nos varais dos açougues. Meu pai recebia no rosto o ar fresco da madrugada, cumprimentava um ou outro vizinho que também seguia para a beira do rio, e partia para fazer o dia nascer. Era nisso mesmo que eu pensava ao ver a carne no gancho sobre a mesa do café todos os dias. Tinha a impressão que era um naco da rubra carne do sol, arrancado pelo esforço de gancheá-lo para fazê-lo nascer. Um fórceps como ainda usava o velho Zeca, médico que morava no casarão do outro lado da praça. Eu tinha muito medo que ele viesse puxar minhas orelhas com o fórceps. Já bastava me ter puxado pela cabeça no parto, e a intervenção ter resultado em uma clavícula quebrada. Por isso fugia dele quando via sua reluzente careca denunciá-lo na rua.  

Meu pai fazia sim o dia nascer. Não havia dúvida que a sanguinolenta carne sobre a mesa fora extirpada do sol. Não era outra coisa senão lamento pela perda diária de um quinhão seu aquele olho vermelho sobre o muro do quintal. Nunca perguntei a meu pai como conseguia a proeza. Preferia o segredo, assim acalentava a sua aura de herói. Não há dúvida que uma pitada de mistério sobre eventos da vida de um herói é ingrediente essencial da sua composição. Contentava-me com as sucessivas provas que ele depositava desinteressadamente e em silêncio sobre a mesa. E até gostava de encontrar a carne atraindo moscas. Podia dar vazão às forças acumuladas nas horas inativas do sono.
Assim ia mais tranquilo para a escola.

Como maneira de vingar-se de mim porque deixava sujeira sobre a mesa Quitéria, a empregada, sentia prazer em me contrariar. Mas isso não empanava a alegria do general que todo dia acumulava vitórias contra os lendários guerreiros alados. Entretanto, uma vez chateou-me muito. Foi quando disse a ela, numa das raras tréguas das guerras muscídeas, que na escola meus colegas sabiam que meu pai fazia o dia nascer. Eles gostavam muito de ouvir eu contar como meu pai fazia o parto do dia.
Ela deu uma poderosa gargalhada que fez uma nuvem de moscas levantar voo da mesa. Até eu surpreendi-me com o forte estrondo brotado de seu corpo frágil. Mas me contrariei mesmo foi quando ela disse, curvando o corpo sobre mim, que sustentava com a mão apoiada sobre a quina da mesa:
— Teu pai num fez nascer nem vocês, foi tudo obra e arte do doutor Zeca, que dirá pôr o sol pra alumiar o dia. Moleque tu tá é variando.



 jjLeandro