quarta-feira, 27 de maio de 2009

O AMOR

A VIDA É ASSIM

Não é difícil
Construir um
Poema com
Tantos andares.

É tão fácil
Quanto escrever
Um romance
Com tantos amores.


..........


O NOSSO AMOR

Ela faz amor
Como quem faz guerra:
Grita e berra!

E o meu vício
É o amor
Como ela faz:
Começando em guerra
E terminando em paz.




jjLeandro

domingo, 17 de maio de 2009

A MORTE NO BORDADO



TRECHO DO ROMANCE 'A MORTE NO BORDADO', A SER LANÇADO NO SEGUNDO SEMESTRE DE 2009.

"Ricoleta tinha muito medo de se tornar uma nova dona Carmen. Não o confessara à mãe por pena de acusar-lhe o fracasso. Mas era o que a fazia ter calafrios.
Estava decidida a ficar em Itaoca. Ainda que isso representasse um passo na direção da materialização de seu medo. Ficaria. E não para resgatar o seu casamento ou salvar as aparências - que não tinha mais ilusões com isso. Quiçá para urdir uma vingança. Se as promessas de felicidade frustraram-se, vingar-se-ia de quem lhe causara esse infortúnio. O que lhe restava na vida senão isso?"
pg. 112-113

Esse romance, já impresso, fruto de uma premiação da Bolsa de Publicação Maximiano da Mata - 2008, categoria ficção, e ainda na Fundação Cultural do Tocantins, à espera do momento de ser lançado, terá a ocasião no segundo semestre de 2009, aqui em Araguaina, onde eu moro.


jjLeandro

sábado, 16 de maio de 2009

E O PIUM TEM VELÓDROMO



Foto: http://brasil.indymedia.org/images/2006/06/355982.jpg


Você sabe o que é velódromo?
Calma, se não sabe eu vou explicar. Se sabe, talvez esteja pensando no velódromo errado, como eu também pensei.
Vou contar a história para que todos entendam o imbróglio.

Eu estava em Caseara. Chegara havia pouco da fazenda, uma semana toda metido no serviço de reforma do curral, e parei na sorveteria Doce Mel do meu amigo Raimundo para uma cervejinha gelada antes de chegar em casa. Eu merecia esse conforto.
No local, várias pessoas matavam o tempo bebericando e conversando no final de tarde. Como estava sozinho, pus-me a ouvir sem muito interesse a conversa alheia. O tema recorrente era ainda a eleição no Tocantins. Depois do pleito, nas rodas de amigos o eleitor costuma declarar em quem votou. É um costume com o qual gosta de ver reconhecido o acerto de seu voto se o seu candidato sagrou-se vencedor.

Um rapaz numa mesa ao lado conversava com uma mulher enquanto aguardava o ônibus que transporta os estudantes dos assentamentos próximos. Ele conhecia Pium e dizia das maravilhas em obras que a cidade alcançou sob a administração municipal de um certo prefeito. Prefeito este que disputara uma cadeira para a Assembleia Legislativa e que pela sua confissão merecera o seu voto. Não consegui constatar se fora eleito. Mas ele explicava: “Pium ficou um brinco com ele. É uma nova cidade, bem arrumada, dá gosto morar lá”. Não sei por que ele estava em Caseara, mas vá lá entender o ser humano. A mulher, também conhecedora de Pium, corroborava o que ele dizia mais com acenos de cabeça do que com palavras. Uma boa propaganda que já estava criando em mim uma vontade de também visitar a cidade. Veja você a capacidade que a propaganda tem em criar desejos no ser humano por coisas que não lhe são necessárias.

“E a prefeitura de lá?”, disse o rapaz. A mulher anuiu com a cabeça. “Não conheço no Tocantins uma que seja mais bonita”. Ela concordou. Animado, talvez percebendo que eu me interessava pela conversa, ele subiu um pouco o tom de voz, quase chegando ao discurso. E foi então que disparou: “Lá tem até velódromo”. A mulher concordou uma vez mais. Foi então que decidi meter o bedelho na conversa. Ia comentar que se não construíra um elefante branco na cidade, o ex-prefeito era fã de ciclismo ou queria tornar Pium conhecida nacionalmente através do esporte. Uma boa estratégia. Já vira casos semelhantes. “Poxa, então Pium está de parabéns. Vamos ter excelentes ciclistas por lá”, comentei admirado. O rapaz se voltou para mim com uma expressão perplexa no rosto. A mulher também se voltou em minha direção, calada, mas com o mesmo olhar desentendido do rapaz. “Isso mesmo”, reforcei, “vamos ter ótimos ciclistas por lá. Velódromo é para corridas de bicicleta”.

O rapaz balançou a cabeça num sinal de desaprovação. A mulher também. “Não, não é para corridas de bicicleta?” O intrigado agora era eu. “Não, não é”, ele foi enfático. “E é para quê?”, questionei curioso. “É para velórios. Para as famílias que não podem ou não têm onde velar seus mortos. Ele não pensou em tudo?”, disse encantado.

jjLeandro

sábado, 9 de maio de 2009

DIA DAS MÃES



Tereza Bringel, minha mãe, aos 36 anos em 1972.

Uma data realmente para comemorar, afinal mãe é única. E é insubstituível. Para os filhos não adianta o pai tentar outra quando a original morre ou o casal se separa. Eles sabem com qual alcunha a postiça será tratada: madrasta. Um substantivo feminino estigmatizado de tal forma na relação familiar que foi alçado à condição de adjetivo pejorativo: má, cruel. No dicionário somente nos antônimos há um refresco, porque - como nos espelhos - há uma inversão: bondosa.

Mas vamos aqui falar apenas da mãe original, afinal todos nós temos ou já tivemos uma. Até a madrasta. Além desta, uma outra e muitas vezes injustiçada tem ou já teve e também é mãe: a sogra. Sim, sogra também é mãe. Se pelos genros e noras ela é tão vilipendiada - todas pagam pela má fama -, para os netos ela é mãe duas vezes. E a aura que reveste as vovós é extremamente positiva. As vovozinhas são sempre doces, acolhedoras, gentis. São a bonomia em pessoa. Pode no círculo familiar alguém ter dupla personalidade como nos filmes de ficção científica, uma hora boa, outra hora má? Ou isso é apenas implicância de genros e noras? As noras nunca devem esquecer que também elas um dia deverão ter a honra de serem sogras. Mas deixo essa polêmicas para os psicólogos de plantão.

Quisera eu, como sei que milhares de pessoas também quereriam, ter ainda a minha mãe. Ela já faleceu. Quando a temos por quase toda a nossa vida, não importa a nossa idade, somos sempre crianças. A atenção e o amor de mãe não nos permitem nunca atingir a fase adulta. É que mãe só sabe ser carinhosa. Até quando nos repreende ou castiga quer o nosso bem. É um alerta a nos desviar do perigo e a mostrar o caminho certo que a experiência e o amor de sua mãe lhe ensinaram.

Mãe, além de mãe, é anjo da guarda dos filhos. E sendo assim, mãe nunca morre. As que já se foram estão em outro plano cuidando de nossa segurança. Quando em casos de extremo perigo, dizemos: "Escapei porque meu anjo da guarda estava de plantão", é certo que foi pelo zelo da mãe alçada à condição dessa entidade. Mas aí surge um problema: quem ainda tem mãe viva qual é o seu anjo da guarda? Uma ancestral materna cuida dela e dos filhos.

O amor materno nos protege sempre. Mas mãe, bem sei, nunca se queixa; se reclamasse, tentaria saber as razões de algumas injustiças. Por que dizemos quando queremos magoar alguém: "Filho da puta!" Ainda que realmente seja, puta é uma mãe como qualquer outra. A condição social ou moral de uma mulher não a desqualifica como mãe.

Acho que mãe devia ser venerada por decreto federal. E aí quem desmerecesse a sua ou a de outrem pagaria uma pena. Talvez assim os árbitros de futebol fossem os primeiros beneficiados e suas mães pudessem ir aos estádios ver a atuação de seus filhos, vibrando de emoção mesmo que ouvissem em algum momento a torcida dizer, quando não concordasse com a arbitragem: "Filho de uma mãe!" Isso não é pejorativo. Até quem grita essa sentença também é filho de uma mãe. Todos nós somos, com muito prazer.

jjLeandro

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Odisseia

O sol teceu sua mágica
na flor
de plástico descorada
na mesa da varanda.

Quando Ulisses partiu
era vermelha como sangue.
Na volta,
perguntou a Penélope:
é outra?

Ela simplesmente
choramingou saudosa:
pensei
que nunca mais voltasse.



jjLeandro