quarta-feira, 30 de abril de 2008

SOL E SOMBRAS

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O sol passou

Por minha janela.
Só não entendo
Como coube Nela.

Depois saiu
Bem mansinho,
Deixando sombras
Em meu caminho.


jjLeandro

VENDEDORA DE CHAMBARIL


Todo dia ela está lá na rampa do rio Tocantins em Filadélfia – To (do outro lado é Carolina no Maranhão) com seu improvisado reboque ganhando a vida. É mais uma trabalhadora brasileira que enfrenta um duro batente para levar um suado trocado para dentro de casa.


É uma cozinheira de chambaril (parte da perna do gado – dianteira ou traseira -, cortada em pedaços e cozida, base da alimentação substanciosa de trabalhadores pobres antes de iniciar a faina). São inúmeras nessa imensa região do Brasil Central nos pontos de tráfego intenso de pessoas. Os seus pontos preferidos são as margens das rodovias federais, as rodoviárias, as travessias dos rios – enquanto a barca demora –, ruas próximas a grandes construções, hospitais, órgãos públicos, etc.


A comida é barata e um prato bem cheio com arroz, chambaril com bastante caldo e farinha de puba (preparada com a mandioca de molho para pubar) não custa mais que R$ 2,00.
É um prato popular e bastante forte. Algumas delas têm outras opções, oferecendo um cardápio que também inclui buchada (o estômago do gado picadinho – também com bastante caldo) ou dobradinha (tripas do gado). Em todos esses pratos o caldo do cozimento é requisito básico. Ele favorece a mastigação do alimento e o amolecimento da dura farinha de puba. Há também os molhos de pimenta, conforme o gosto do cliente.


Tenho grande respeito pelas pessoas envolvidas neste mister, afinal é uma profissão que não conhece descanso. Adentram a madrugada na preparação da carne – dura – e logo no primeiro cantar do galo têm que estar nos pontos de venda à espera dos fregueses. Ao contrário da carne que preparam e tornam macia pelo cozimento e saborosa com os temperos variados, a vida nunca lhes deu mole.


jjLeandro

segunda-feira, 28 de abril de 2008

BOA COMPANHIA

De quando em quando
A solidão retorna.
Nunca me deixa sozinho
Quando um amor vai embora.

.........


EU ABSTRATO

Sou de carne e osso
Mas você me faz abstrato
No seu pensamento.
É por causa
Do nosso amor
Que até isso
Eu agüento.

..........

ASSIM NÃO DÁ

Detesto a inveja
Do sol.
Quando saio
À rua, ele
Quer me fazer
Sombra.



jjLeandro

sábado, 26 de abril de 2008

Eterna vigília


De toda janela
Um ser me olha.
Em qualquer
Rua a chuva me molha.
Se é dia,
O sol me queima.
Quando chega a noite,
A lua vigia
Os meus passos
Trôpegos em busca
Do dia.
De qualquer esquina
Descubro
Uma reta.
Uma mulher ereta
Na porta aberta
Procura por sexo
Para o corpo vazio;
Me chama de lado,
Diz coisas sem nexo,
Quer é dinheiro,
Seu amor confesso.
Mas eu vou embora
Porque sei que há
Nessa mesma hora
Em qualquer lugar
Um cafetão de olho
No que vai ganhar.
E eu vou dizer
Que não há quem não tenha
Um olho que vela
De longe, na brenha,
Que espera o dia
Da sua morte
Pra correr ao cartório
E se tiver sorte
Levar os seus bens
Sabendo que a partir dessa hora
Será ele o otário
Pois já há outros que miram
O seu inventário.



jjLeandro

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ALGUNS POEMAS

Círculo Vicioso

Quando ao pó
Eu voltar,
Terei chance
De me refazer
Para te agradar?

Ou serei como dizem:
Fôrma para outro ser,
Que sem ser diferente
Trará o vício do pó
Que me fez,
E repetirá com outra mulher
Tudo outra vez.

...


Desavenças


A lua cheia
Enche o céu.
Por puro despeito
A meia-noite
Esvazia as ruas.

Só o dia
Dá um jeito
Nas desavenças
Das duas.

......

Desejo

O céu é tão
Belo em tua boca
Que dá vontade
de chover beijos.

.........

Pontaria

Quando teus olhos
Miram em mim
Acertam
sempre na mosca

......


Ruim de lição

Se choro
É porque
Decorei
Bem
A saudade.

.....


Tortura

Suporto
Mais um
Ônibus lotado
Que meu
coração apertado.


jjLeandro

sexta-feira, 4 de abril de 2008

PARA LER E PENSAR


.
Ofício de quem pensa

Quando escrevo
Dito uma sentença
Que pode unir
Ou causar desavença.
Ainda assim
Não fujo
Ao ofício de quem pensa.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

POESIA COM A LÍNGUA

Tônicas e hiatos

Ú

Quantos agudos
Enchem
Esse buraco?

Ê

Chapéu para
Inglês ver.

É

Quando chove
sobre o chapéu,
Somente o é
Se molha.

Ü
Fazendo malabarismos,
Torço para que
Ele não trema.



São gêmeos,
Mas não univitelinos.


AA

Esses sim,
Univitelinos.


Ó

Corra senão
Ele acerta
O alvo

ÔO

Definitivamente,
Sombra e água fresca
Não é para
Todo mundo.

Ã

É preciso
Segurar
A onda.

À

Esse é um caso
Mais que agudo.
É crase.

OO
Olhos bem
abertos
vêem melhor.


í
Sim, senhor!

Õ

Ele não partiu
E ainda paira
Sobre minha
Cabeça.

Á

"Do alto
Da pirâmide
Vinte séculos
Vos contemplam."


jjLeandro

SARNA PARA SE COÇAR

Reprodução de um dos cartazes carregados por manifestantes durante a passagem da tocha olímpica em Istambul, na Turquia.

BEIJING DA MORTE

Parece que de fato a China arrumou sarna para se coçar.

O país tem uma série de restrições à democracia, além de oprimir outros povos, e manifestantes de todo o mundo aproveitam que o país está em evidência para chamar a atenção da opinião pública mundial.

Por onde a tocha olímpica passa, no périplo por todos os continentes, que terminará em Beijing (Pequim para os brasileiros), os protestos acontecem. A proximidade do evento tornará os protestos muito mais assíduos e duros, quem sabe, podendo chegar até a China.

No protesto de Istambul (Turquia) nesta quinta-feira (03/04), um cartaz me chamou a atenção (reprodução acima), que eu - aproveitando o trocadilho que a língua permite com o nome da cidade-sede-, então assim intitulei: BEIJING DA MORTE.

O som da palavra (BEIJIM) assemelha-se muito à forma como o brasileiro pronuncia a palavra beijinho. E quem deseja esse beijinho da morte? Se não tomar cuidado, a China é que poderá recebê-lo.

jjLeandro


quarta-feira, 2 de abril de 2008

O BURACO NO CÉU

O céu
Tem um abismo
No fim.
Afirmo: é um buraco
Para o inferno,
Ou não
acreditam em mim?


jjLeandro

terça-feira, 1 de abril de 2008

MUNDARÉU DE ÁGUA EM ARAGUAÍNA

População se protege da chuva
Centro esportivo alagado na Marginal Neblina



Muita água nos escoadouros das calhas dos telhados



Centro da cidade sob chuva


Córrego Neblina: em alguns pontos mais baixos ele transbordou


Avenida Cônego João Lima às 11h30min



Muita água em Araguaína (Centro da cidade)



Choveu forte hoje em minha cidade desde o início da madrugada. O temporal só abrandou agora às 12h 30min. Chuva forte, muito forte, que causou mais uma vez apreensão nos moradores marginais do córrego Neblina. Em alguns pontos, ele transbordou trazendo prejuízos à população dos bairros Neblina e Noroeste.
O transbordo do córrego não é raro quando as chuvas são fortes e persistentes, alagando as casas às suas margens. No setor Alaska, um centro esportivo permanecia debaixo d'água ainda ao meio-dia.
Nas ruas a água varria o asfalto, impossibilitada pelo grande volume de ser absorvida pela galeria pluvial. A água descia aos borbotões pelas calhas dos telhados e a população, que preferiu em sua maior parte permanecer em casa, buscava a proteção de marquises.




jjLeandro (texto e fotos)