quinta-feira, 28 de junho de 2007

SÓ O ELEITOR PODE MUDAR


por jjLeandro


Políticos flagrados em falcatruas, negociando em conversas grampeadas vantagens e propinas com empresários inescrupulosos, outros tantos usando o mandato para articular negociatas que fogem ao propósito público do mandato e entram no submundo dos escusos acertos privados.
Essa é a realidade política que o Brasil vê estático nos noticiários dos diversos veículos de comunicação diariamente e pensa desanimado: ‘Não há solução para tanta corrupção’.
Mas peraí, há algo errado na lógica desse jogo político. O questionamento que se faz urgente é o seguinte: ‘Quem os põe lá? Como conseguem seus mandatos? Somente o voto do próprio candidato ou de sua família pode dar-lhe o mandato?’ Claro que não!
Então é de boa lembrança dizer: o eleitor tem sua parcela de culpa no jogo sujo que toma conta do cenário político brasileiro. Dizer apenas que cada povo tem o governante que merece, a meu ver, é justificar a atual conjuntura e não vislumbrar mudança. Escusar-se também de qualquer responsabilidade dizendo que todo político é igual é deixar campo fértil para a erva daninha.
Bem sei que esses espertalhões chegam lá por meio de uma combinação sórdida de exploração da pobreza e da desinformação da maioria. A parcela mais esclarecida, e aqui entram todos os setores impolutos da sociedade, tem por obrigação vencer esses preconceitos que só justificam a existência e a manutenção do jogo sujo para começar a expurgar da nossa política os parasitas que a dominam.
É um trabalho árduo? Diria que além de árduo é muito difícil. Mas pior seria a manutenção do status quo. A hora de transformar é justamente esta na qual a corrupção não está mais coberta pelo manto da impunidade e da negligência, que a fazia parecer inexistente.
A indignação da população não pode começar e finalizar em si mesma. Tem que extrapolar o perímetro da própria decência conspurcada. Tem que ser o pontapé inicial da transformação. Que tal a indignação como força motriz para a seguinte reflexão: ‘Por que esses caras estão lá? Quem os pôs lá?’
A partir daí, o eleitor deve questionar a utilidade do próprio voto: ‘Algum dos marginais que têm mandato o obteve através de meu voto?’ Se sim, você é co-responsável, culpado em parte pelas falcatruas que ele perpetra contra o patrimônio público e nós eleitores; mas se você tem sua parcela de culpa, o dolo é somente dele. E nada melhor para resolver um problema do que saber que ele existe.
Detectada a sua culpa, cabe não persistir no erro. Se isso acontecer, pode ter a absoluta certeza que nem o Brasil muda, nem você é melhor do que o político que o representa. A única diferença visível nesse caso entre o eleitor e o mau político é que este tem um mandato. A falta de escrúpulos existe nos dois.


ESTE ARTIGO ESTÁ TAMBÉM EM O GLOBO ONLINE

sexta-feira, 22 de junho de 2007

UMA FERROVIA HISTÓRICA

Máquinas no pátio da ferrovia
Composição sobre ponte na EFT

Estação de Tucuruí na década de 1930
Fotos do sítio - www.geocities.com/eftocantins


A NORTE-SUL É MAIS ANTIGA NA AMAZÔNIA

por jjLeandro

Com o avanço do agrobusiness e o Tocantins consolidando sua condição de nova fronteira agrícola em tempos que sob todos os aspectos da economia a competitividade e a relação custo/benefício são mais que nunca consideradas pedras angulares, a integração nacional e o transporte multimodal não apenas são oportunos a essa nova realidade como exigência para uma nação que quer definir seu espaço num mundo globalizado. Esse é sem dúvida o discurso do momento, o discurso da modernidade.
Talvez por isso, a conclusão da Ferrovia Norte-Sul tenha se tornado uma das prioridades do governo Lula na área de transportes.
Em meados de maio, quando esteve em Babaçulândia, durante a inauguração de trecho da ferrovia entre Aguiarnópolis e Araguaína, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entendendo a realidade que hoje vive o Brasil, fez sua mea culpa com bastante humildade e disse: “Quando o Sarney anunciou esta ferrovia, e eu fazia muitas críticas a ele, eu precisei virar presidente da República para compreender a importância desta obra”. E foi além, esclarecendo o pensamento dos idos de 1987: “Muita gente foi contra, dizendo que ela serviria apenas para unir o nada a lugar nenhum”. Nessa época, o Tocantins ainda era o estigmatizado norte goiano. A ferrovia firma-se a cada dia e deverá em pouco tempo estar operando comercialmente seus mais de 1.800 km (mais de 300 km além do projeto original), dos quais 724 km no Tocantins, promovendo a integração nacional como aconteceu na região a partir de 1958, com o início da construção da Rodovia Belém-Brasília.
Não quero aqui falar especificamente sobre a Norte-Sul, mas dizer que uma outra ferrovia, bem anterior a ela já explorou este sonho aqui na Amazônia e justamente com o propósito de ser um dos eixos com a hidrovia, o maior meio de transporte regional na época, na aposta da integração nacional e do desenvolvimento econômico. Era a mesma visão de integração que se tem hoje com a Norte-Sul. Diz a Valec, órgão público gestor da ferrovia, em seu sítio na internet: “A Ferrovia Norte-Sul foi projetada para promover a integração nacional, minimizando custos de transporte de longa distância e interligando as regiões Norte e Nordeste às Sul e Sudeste, através das suas conexões com 5 mil quilômetros de ferrovias privadas.”

A NORTE-SUL DO PASSADO

Muito pouca gente tem notícias dela: a Estrada de Ferro Tocantins. Não foi um delírio de um sonho tropical. Concebida em 1869 como meio de contornar as corredeiras e baixios do médio Tocantins, ela teria a gloriosa missão de, além de vencer os trechos encachoeirados, unir as vastas e ricas regiões do baixo e alto Tocantins ao resto do País. Apesar de decreto do governo provisório da República em 1890 autorizando a sua construção, só em 1908 os trabalhos foram iniciados. As complicações foram muitas, como em toda a história da sua existência, que desde 1908 até sua extinção em 1967, durante o Regime Militar, viveu problemas e interrupções do tráfego, até o total desaparecimento em 1974 quando seus trilhos foram arrancados.
O certo é que a idéia defendida hoje por autoridades governamentais, políticos, empresários e mesmo estudiosos sobre a integração e a utilização da multimodalidade nos transportes não é tão recente. A Estrada de Ferro Tocantins chegou a ter 118 km de trilhos em operação, entre Alcobaça (hoje Tucuruí-PA) e Jatobal (PA).
O discurso do engenheiro Virgínio Santa Rosa, diretor das estradas de ferro de Bragança e Tocantins, e encarregado da revitalização da ferrovia, em documento (O aproveitamento econômico da Bacia Tocantins-Araguaia e o eixo de transporte fluvial-ferroviário do Brasil Central) enviado aos superiores do Ministério de Viação e Obras Públicas, em 1941, mostrado fora do contexto parece feito por alguém do século XXI: “O problema dos transportes da Bacia Tocantins-Araguaia é utilíssimo para o desenvolvimento do Brasil Central mas, ao mesmo tempo, se criteriosamente resolvido, se encarado com decisão e coragem, representa o estabelecimento de uma das mais importantes linhas de comunicação do interior brasileiro. E a solução que apresentamos estabelecerá a criação do eixo de transporte Tocantins-Araguaia que, com aproveitamento de duas seções de navegação fluvial, ligará Porto Alegre a Belém do Pará pela bitola de um metro”. Está clara a proposta de integração nacional e ainda a utilização multimodal com o transporte ferro-hidroviário. Ele era defensor de duas ferrovias marginando os rios Tocantins e Araguaia.
A integração do Norte com o Sul, contudo, só aconteceu a partir de 1958, com a construção da Rodovia Belém-Brasília, uma das propostas do Plano de Metas de JK. Para Santa Rosa, no documento de 1941, a opção ferroviária para essa ligação teria sido melhor: “Técnicos de renome mundial já determinaram que a estrada de ferro é o meio de transporte ideal para grandes massas de transportes a grandes velocidades. Desde que a distância a vencer ultrapasse cem quilômetros a ferrovia ganha a palma sobre a rodovia”.

SEGUNDA GUERRA FOI PREOCUPAÇÃO GEOESTRATÉGICA

Um acontecimento mundial na década de 1940 ressalta, para o engenheiro, a importância da revitalização da Ferrovia Tocantins e da sua integração com as outras regiões do País: a Segunda Guerra. “A solução dele implicaria no imediato fortalecimento dos laços da unidade nacional e permitiria fácil auxílio à Amazônia em caso de bloqueio da foz do rio ou do litoral nordestino do Brasil”. Houve durante a guerra o torpedeamento de vários navios no litoral brasileiro. Talvez a geoestratégia tenha sido um dos motivos da retomada da ferrovia durante a guerra.
Ele era crítico do abandono ao qual a região do Sul do Pará e Norte do Tocantins vivia submetida pela falta de investimentos públicos que viabilizassem a construção de estradas férreas e alavancassem o seu desenvolvimento: “Até hoje os poderes públicos ainda não puderam volver as vistas para essa região e tudo o que ali se tem feito é devido, exclusivamente, à iniciativa particular e às autoridades municipais”. Riquezas nativas que justificassem investimentos não faltavam, apontava Santa Rosa às autoridades ministeriais: “Essa região é riquíssima em produtos de indústria extrativa como castanha, coco babaçu, diamante, timbó, borracha, madeiras e fibras têxteis e apresenta terras férteis, cheias de amplas possibilidades para a indústria agrícola. Já possui também uma indústria pecuária, que, embora organizada em estágio rudimentar, poderá atingir facilmente apreciável grau de desenvolvimento e constituir parcela valiosa na economia regional”.

O ENGENHEIRO SANTA ROSA

Virgínio Santa Rosa era natural de Belém, nascido em abril de 1905, com formação superior em engenharia ferroviária. Grande conhecedor do Brasil, trabalhou do Sul ao Nordeste do País, sempre com espírito aguçado para a percepção das regionalidades e os entraves ao desenvolvimento brasileiro. Defensor da aproximação do trabalho manual do intelectual, esteve ativo politicamente na Liga de Defesa Popular, no Rio de Janeiro, então capital federal, entre 1935 e 1937. Como autor, escreveu A Desordem (Ensaio), O Sentido do Tenentismo (Ensaio), A Estrada e o Rio (Romance contando a saga da Estrada de Ferro Tocantins), Paisagens do Brasil e Dostoievski, Um Cristão Torturado. Também militou na política, tendo sido deputado federal pelo Pará. Faleceu em 2001. (Informações históricas sobre a ferrovia do site
www.geocities.com/eftocantins
)




quarta-feira, 20 de junho de 2007

O INDEFECTÍVEL NO BRASIL É...

Foto: Charge do Henfil


1 - Jamais um político acusado de corrupção admitir ter cometido o crime. Sempre diz: “Isso é uma armação contra mim”.
Quando questionado pela imprensa, ele sai com essa pérola: “Estou tranqüilo porque tenho certeza que a verdade prevalecerá”. Não demora muito ele cai (Foi assim com o Severino na Câmara Federal; a bola da vez é o Renan Calheiros).

2 - Os escândalos no Brasil. Eles são tantos que não nos dão nem tempo para “relaxar e gozar”, como disse a socióloga-ministra Marta Suplicy (que Suplício), referindo-se às filas dos aeroportos. São tantas as quadrilhas flagradas pela Polícia Federal que, em tempos de festa junina, as exatas 64 quadrilhas fichadas só em 2007, com um total de 1.120 participantes, garantiriam o maior arraial do Brasil. E olha que a PF está de oitiva para aumentar esse número.

3 – A crise nos aeroportos. Quando há um feriadão então pode se preparar para o “relaxa e goza” nos aeroportos, a nova terapia governamental para o passageiro sobreviver à irritação dos apagões aéreos. Eles são tão freqüentes que já estão chamando avião de vaga-lume pelo acende-apaga e aeroporto de motel pela terapia de sexo na fila.

4 – Novela da Globo que não tenha um “pobrezinho” correndo atrás do seu “riquinho” como condição para a ascensão social.

5 – Final de novela global na qual todas as mulheres não terminem grávidas. Já reparou nisso?

6 – Mais uma global. O Galvão Bueno não dar início a qualquer transmissão de programa esportivo com o bordão: “Alô amigos da rede Globo!”

7 – Noticiário da imprensa que não traga informação sobre mais um dia de tiroteio nas favelas do Rio de Janeiro. E ainda assim a capital fluminense é chamada por todos, até no exterior, de “Cidade Maravilhosa”.

8 - A cidade de São Paulo sem engarrafamento diário no trânsito; quando chove, o tumulto dos alagamentos. Isso é tão comum quanto a Mega-sena acumular o prêmio.
9 – O Brasil ser o eterno país do futuro. Não será isso desculpa para não assumir a incompetência? E se o futuro a Deus pertence, por que ele sempre adia o nosso porvir? Será que devemos duvidar que Ele é brasileiro, como dizem?

10 – O otimismo do brasileiro. Com perturbações de toda ordem, o brasileiro é ainda o povo mais otimista do planeta a ponto de acreditar que tem o privilégio de estar “deitado eternamente em berço esplêndido”.

11 – Criticar sempre a morosidade da Justiça e nunca encontrar uma solução para isso.

12 – Dizer que todo político é corrupto. Isso é o mesmo que os qualificar de “farinha do mesmo saco”, quando nós sabemos que até as farinhas são diferentes: há delas de milho, de mandioca, de trigo etc. No entanto, os políticos reforçam diariamente esse preconceito com ações deletérias à função, ao País e à Instituição que representam.

13 – A amnésia eleitoral do brasileiro. No dia seguinte à eleição não sabe mais em que candidato votou. Ainda hoje me questiono se Pelé, que foi muito criticado quando disse: “O brasileiro não sabe votar”, não estaria com a razão.

14 - Confundir “jeitinho brasileiro” com habilidade para superar adversidades. Na realidade, quem exercita o jeitinho brasileiro para passar dele à corrupção a única coisa que falta é um mandato político.

15 – O bumbum do mulherio como “instituição nacional”. E uma instituição com aprovação unânime. E pelo menos essa reconhecidamente incorruptível. Apesar de o dramaturgo Nélson Rodrigues considerar toda unanimidade burra, é essa a única burrice que admito.

16 – Brasileiro que faz Miami de Paraguai dos ricos e o Paraguai de Miami dos pobres.

17 – Mesmo com os jogos Pan-americanos aí, a persistência da crença que diz que o importante é competir. Todos nós sabemos que se assim fosse, não havia premiação para os três primeiros colocados.

18 – A certeza do brasileiro de largar a mulher se ela o trair, mas jamais abandonar o time do coração mesmo que ele só lhe dê decepções.
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jjLeandro

sexta-feira, 15 de junho de 2007

OLHA O CAMINHO DA CELA!

Atenção quadrilhas de todo o Brasil! Festa junina inusitada atrás das grades é no ARRAIAL DA POLÍCIA FEDERAL, onde sempre cabe mais uma. A sua inscrição pode ser feita de última hora, de forma involuntária. Pelas “habilidades” dos integrantes, a quadrilha pode ser convocada sem prévio aviso. “Olha o caminho da cela!”
Só de janeiro até a hora da publicação desta matéria (conforme dados do site “arraial” da PF), exatas 64 quadrilhas estavam fichadas, num total de 1.120 participantes, sendo pelo menos 110 servidores públicos. Há também muitos empresários, políticos, policiais federais e gente comum participando. Dá gosto ver. A Federal está de oitiva para descobrir novos “talentos”. Foi assim que entrou o pessoal da Navalha e do Xeque-mate, que pensavam que ficariam de fora. Não podia ficar, é gente com cela cativa.
Quem está escolado nessa “arte”, pensa que será esquecido, não esmoreça, pois pode ser autorizado de última hora através de um mandado judicial. Aí não adianta fazer de conta que “viu a cobra”, tentar dar meia volta e sair de fininho. Nem pensar em fugir ao “convite” (nessa tentativa, o aeroporto é o lugar menos recomendável. Por lá ultimamente ninguém consegue nem relaxar nem gozar com as tremendas filas de espera). Vai ter que entrar na fila (da PF) e dançar, acenando para o público com as algemas. Então a quadrilha estará terminada.


Confira a lista dos “classificados” de 2007 (pode haver acréscimo até o final do mês)

LINHAS CRUZADAS
VINTÉM
SODOMA
PASSE LIVRE
TV PIRATA
ALIANÇA
KOLIBRA
PARABELLUM
CEDRO-MARACÁ
ROSEIRA
BIG-APPLE
SINTONIA
PIRATAS DA LAVOURA
RIO NILO
387
SAVANA
ANANIAS
XINGU
CASÃO
TRUCO
MORPHEU
MIRAGEM
NACIENTE
BYBLOS
JOTA
DERRAME
ANTÍDOTO
PLATINA
ÂNCORA
CURITIBA
INTERFERÊNCIA
TESTAMENTO
MALHA SERTÃO
OURO VERDE
CONEXÃO ALFA
MALHA FINA
AVELOZ
ARARA PRETA
HURRICANE
42 GRAUS
COBRA D'ÁGUA
KASPAR
LACRAIA
GAME OVER
OESTE
TERRA DO SOL
VAGA CERTA
MOEDA VERDE
274
CAMPO VERDE
CACIQUE
PARAÍSO
ISCARIOTES
CONEXÃO CRICIÚMA
NAVEGANTES
PÓ DA CHINA
CARIMBO
MAPINGUARI
NAVALHA
HIPÓCRATES
CONTRANICOT
BANCO IMOBILIÁRIO
OURO NEGRO
HIENA
GUARANY
BRUXELAS
XEQUE-MATE

Ufa...terminei. É gente demais!
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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Marta - Conselhos de divã para os passageiros nos aeroportos


RELAXAR E GOZAR NOS AEROPORTOS


A ministra do Turismo, Marta Suplicy, foi de grande infelicidade quando brincou com uma aflição que faz os brasileiros e estrangeiros que usam nossos aeroportos irem às nuvens sem decolar. Foi durante o lançamento do Plano Nacional de Turismo 2007-2010, quarta-feira, 13 de junho, em Brasília.
Ela disse textualmente: “Relaxa e goza porque você esquece todos os transtornos depois”, numa orientação fora de propósito para os passageiros da aviação brasileira que se descabelam com atrasos e filas, mas perfeitamente adequada aos conselhos que dava no programa Tv Mulher, na década de 1980. Aliás, com as câmeras de tv em cima, deve ter sofrido regressão para sair com essa.
Se os turistas, que se chateiam nas imensas filas por nevoeiro, overbook, ou ação deliberada de controladores de vôo seguirem à risca a indicação, os nossos aeroportos vão virar motéis. Creiam, oportunidades não faltarão. E tanto melhor que seja com aval oficial.
Agentes de viagem poderão pegar o mote e disparar em seus anúncios atrás de clientes mundo afora: “Não tenha pressa, no Brasil o seu gozo começa ainda no aeroporto”. Ou então: “No Brasil, o seu gozo é como as filas de aeroportos: nunca acaba”. Ou ainda: “Vá às nuvens no Brasil sem levantar vôo”. Que tal esse um pouco mais apelativo: “Venha gozar conosco as suas férias. Comece imediatamente no aeroporto”.
Teríamos então uma enxurrada de turistas sexuais que, claro, impossibilitados de serem atendidos com rapidez em nossos aeroportos ainda assim estariam felizes: gozariam indefinidamente o seu prazer!
Retornando para casa, um amigo poderia cumprimentá-lo assim: “E aí, gozou bem?” Ele, satisfeito: “Rapaz, que fila!”. O outro, pensando que o amigo havia se metido numa enrascada, lamentaria: “Xii! Então foi mal?” E ele, flutuando: “Qual nada! O Brasil é o único lugar onde se faz fila no aeroporto para gozar”.
Realmente, ouvir essa da ministra foi além da dor do parto, que ela mal comparou à aflição da espera nas filas dos aeroportos. Acredito que vá sentir essa dor quem resolver levar a piada a sério e relaxar e gozar enquanto coisa melhor não se fala nem se faz para pôr termo aos tormentos nos aeroportos.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

NOITE CULTURAL

Alma do Tocantins - N. Lira
Pietà - N. Lira

O Tocantins trabalha para valorizar seus talentos artísticos, apresentando-os a sua própria gente e também ao mundo. Isso é o que vai acontecer sexta-feira, 8, no Instituto Tocantinense de Artes (ITA), a partir das 20 horas, em Araguaína, com os trabalhos do artista plástico N.Lira, em exposição até 20 de julho.

Genuinamente tocantinense, ele nasceu em Ananás, cidadezinha da região do Bico do Papagaio com forte expressão econômica na agropecuária. Contrariando todas as expectativas e valendo-se exclusivamente do talento e de uma grande dose de perseverança, conseguiu romper as fronteiras da própria terra e hoje os seus trabalhos espalham-se pelo Brasil e o mundo.

Mas como diz Kaio Diniz, presidente da Associação Cultural Norte Tocantinense, que apóia o evento, a dificuldade de divulgação, como é comum no Brasil, faz com que o artista circule em meios restritos. “Com iniciativas como essas, do ITA e da ACNORT, queremos romper tais barreiras, popularizando nossa arte e nossos artistas”, aposta.

Potencial N. Lira tem, tanto que hoje é uma das maiores apostas da pintura no estado, revela Diniz. A obra do artista é bastante diversa, produzindo também esculturas e artesanato. Em seus trabalhos retrata o povo em sua árdua lida, explorando como cenário a exuberância da flora e fauna tocantinenses. Como os temas abordados são inerentes ao ser humano não perde a universalidade. E isso favorece a inteligibilidade de seus trabalhos em qualquer parte do planeta.

Em seu aprendizado artístico, N. Lira teve aulas com mestres como Papas Stephanos. Já foi premiado e expôs em Goiás. Obras de sua autoria foram impressas em cartões telefônicos da Brasil Telecom. Atualmente vive a fase figurativa, mas transita com desenvoltura do clássico ao abstrato.

ITA Rua Ademar Vicente Ferreira - próximo ao Hospital Regional - Centro


quarta-feira, 6 de junho de 2007

TERRA DOS PAPAGAIOS


A propósito de Chávez e papagaios

Ornitologicamente, os papagaios são belas aves coloridas, alvissareiras, e que involuntariamente sempre deram as penas do rabo aos indígenas. A beleza plumária dos psitaciformes subiu à cabeça dos índios ainda em tempos imemoriais.

Na semana passada a bela ave esteve no meio do fogo cruzado entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e os congressistas brasileiros. Tudo porque o mandatário bolivariano disse que nossos ilustres parlamentares são meros “papagaios de Washington”, quando estes, através de um comunicado, pediram a Chávez que permitisse a volta ao ar do canal de tv RCTV, cuja licença fora caçada pelo governo.

A bem da verdade, quando Cabral aportou por aqui, encontrou-os aos milhares e seu escrivão Pero Vaz de Caminha, na famosa carta, que dizem ser a certidão de nascimento do Brasil, fez referência aos papagaios em várias ocasiões. Nas mímicas para serem entendidos pelos nativos, Caminha relata que os portugueses “mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali”. No escambo em terra com os índios, os portugueses levaram para bordo “papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes”. E mais adiante se extasia com a abundância deles: “Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito”. Certa feita, ali pelo século XVI, um cronista, cujo relato de viagem chegou anônimo até nós, declarou sobre os infaustos papagaios: “Coitados deles, são constantemente depenados pelos indígenas, como os agiotas fazem aos homens de bem em nossa terra; e isso é sorte grande quando se sabe que também costumam virar alimento. Protestam numa linguagem áspera, dura, que não entendemos, e é a mesma de seus donos”. Numa clarividência de arrepiar, ele vaticinou: “Será que essa terra na qual um dia se formará uma nação, levará do berço essa maldita herança da usurpação?”

Pela presença de papagaios, por muito tempo, o Brasil, que foi um dos países com a maior incidência de alcunhas – já foi Terra de Vera Cruz e de Santa Cruz -, até que se firmasse o nome atual, foi também a Terra dos Papagaios.

Politicamente falando, e isso é o que mais nos interessa agora, o papagaio é tão malvisto quanto a inofensiva laranja (também ela merece um estudo a respeito dessa discriminação). Talvez porque seja vistoso (fácil de identificar num país que gosta das coisas à socapa), ou porque os políticos inexpressivos não se furtam descaradamente de postar-se atrás dos mais famosos nas entrevistas, para serem notados. É o tradicional papagaio de pirata. Ou ainda porque papagaio é mera caixa de ressonância do que lhe ensinam e decora. Acho que foi aí que a coisa pegou com o Chávez. Tão deselegantemente ele declarou que nossos congressistas são “papagaios de Washington”, ou seja, repetem o que lhes mandam. O presidente bolivariano, como se intitula, queria dizer que nossos homens de Brasília sem convite, nem chaves, acharam-se no direito de invadir a sua casa e meter a colher no explosivo caldeirão venezuelano. Tudo por conta de um canal de tv tirado do ar, que Chávez jura que lhe tentava sabotar continuamente. Também os venezuelanos têm direito de saberem o final de sua novela preferida.

“Currupaco papaco”, diriam os papagaios cabralinos com a falta de elegância de Chávez. Mas, malgrado a indelicadeza dele, tudo que nosso Congresso não pode desejar agora é uma polêmica gratuita, muito menos o comparando aos membros da ordem dos psitaciformes.
Essa de atrair os holofotes, aqui dentro e lá fora, pode expor ainda mais as suas mazelas e prejudicar igualmente a já desgastada imagem com as constantes acusações de parlamentares envolvidos em corrupção, acusação contra o presidente do Senado de valer-se de empreiteira para pagar pensão de filha fora do casamento, e a idéia desabonadora que o eleitor tem de uma Casa com pouco trabalho e muito salário.

Embora goste muito da ave, não desejo nem gostaria que o Brasil voltasse a ser chamado Terra dos Papagaios. E para isso, entre outras providências, já que temos muito serviço por aqui, não é de bom alvitre meter o bico onde não é chamado. Que tal, em vez disso, arregaçar as mangas e mãos à obra aqui mesmo?
jjLeandro

segunda-feira, 4 de junho de 2007

MÁRCIO SOUZA EM ARAGUAÍNA


Não conhecia o escritor Márcio Souza. Era apenas um leitor voraz de sua obra, conhecendo muito da nossa região, o Norte do Brasil, pelas páginas de livros emocionantes como Galvez - o Imperador do Acre e Mad Maria.

Ele esteve em Araguaína, por cinco dias, no final de maio, durante estréia da peça teatral A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô-Bequê, de sua autoria, encenada pelo grupo local Ciganu’s. Souza é uma pessoa extremamente gentil, tranqüila, completamente o avesso da agitação e das aventuras com que compõe seus personagens em livros cujo cenário é a sua própria região: a Amazônia. Um escritor que dá destaque à história de seu povo em seus livros, ele acredita que no Brasil existe certo preconceito dos autores em trabalhar temas históricos.

Também acredita que se o país tivesse mais bibliotecas públicas o brasileiro teria mais chances de elevar seu nível de leitura. Para Márcio Souza, quem deseja se iniciar na carreira literária tem que ser perseverante e buscar uma editora do eixo Rio-São Paulo para obter sucesso.

jjLeandro - Araguaína é uma cidade da região Norte. Nos seus trabalhos, o senhor explora muito a temática dessa região. Causou-lhe surpresa a encenação de uma peça sua aqui, numa cidade desconhecida?
Márcio Souza – Não. Não causou surpresa. É uma peça bastante encenada no Brasil e me deixou bastante feliz porque, como disse, é muito encenada, mas raramente é encenada na região. As dificuldades são maiores aqui para fazer teatro, fazer qualquer tipo de arte, principalmente nas cidades do interior. Por isso mesmo quando eles me pediram autorização, eu falei: 'olha, não tem o menor problema', e até brinquei com eles, dizendo 'eu autorizo, mas vocês têm que me convidar para a estréia'. E eles convidaram mesmo. E eu achei ótimo estar aqui para assistir ao espetáculo e conviver com o grupo. Eu faço teatro também e sei das dificuldades.

jjLeandroQuais suas expectativas para o lançamento dessa peça em Araguaína?
Márcio Souza – A experiência que eu tenho com o Sapo Tarô Bequê é que ele é um espetáculo que atrai público. Onde ele foi encenado, em geral, agradou. É comédia. O brasileiro é ligado aos temas cômicos, não gosta muito de drama e tragédia, e, pelo fato de ser comédia, já tem meio caminho andado para interessar ao público. Depois tem o poético, o romance, o inusitado de trabalhar o mito indígena como teatro e como comédia.

jjLeandroComo o senhor vê o enfoque da peça com o grupo Ciganu’s voltado para todas as faixas etárias e não somente ao público infanto-juvenil? E a relevância de uma abordagem atual como ecologia e meio ambiente?
Márcio Souza – O sapo também é apresentado para todo mundo. Nós estamos com uma montagem agora lá em Manaus, e temos apresentado para platéias de todas as idades, de oito a oitenta anos. A temática do meio ambiente não é parte aberta do espetáculo. Está implícito isso na medida em que o próprio mito trata da relação homem/natureza, da civilização. De fato, eles fazem uma encenação e não uma adaptação. E esses temas já estão subjacentes na peça.

jjLeandroO senhor aborda muito a temática da região Norte em seus trabalhos. A tetralogia sobre as crônicas do Grão-Pará explora essa temática e o senhor já disse que a Cabanagem tem material para milhares de romances. O senhor acredita que o tema histórico no Brasil é explorado satisfatoriamente?
Márcio Souza– Hoje não é muito do interesse dos escritores trabalharem isso. Primeiro porque a literatura brasileira na sua maioria hoje, com honrosas exceções, é uma literatura subjetiva que tem mais a ver com as experiências pessoais dos autores. É uma literatura reflexiva. Naturalmente, a literatura que trabalha com temas históricos é muito mais ampla, de ação em muitos casos, que leva os leitores ao passado e a partir daí faz uma reflexão sobre o presente. Diria até que há certo preconceito contra o romance histórico no Brasil. Não é da moda...

jjLeandroIsso é positivo ou negativo?
Márcio Souza – Não faz a menor diferença para a literatura. É negativo para os leitores, porque a divulgação da literatura no Brasil - seja brasileira ou estrangeira - tem um espaço muito limitado. Você compara com trinta anos atrás, a literatura tinha muito mais espaço no jornal impresso, na rádio, e hoje não tem mais espaço. E aí, quando surge um preconceito contra um dos nichos de narrativa, é muito ruim para a divulgação da própria literatura.

jjLeandroComo autor consagrado, o senhor acha que exista uma fórmula para o autor inédito que procura reconhecimento e leitores para sua obra?
Márcio Souza – Acho que não. Acho que ele tem que ser perseverante, escrevendo. O primeiro cuidado dele é não editar, se ele não está no eixo Rio-São Paulo, na sua cidade, pois aí estará apostando contra ele mesmo. Em geral, fora do eixo Rio-São Paulo não tem profissionais com capacidade de distribuir o livro. Mesmo no eixo Rio-São Paulo a distribuição já é precária no país pela suas dimensões continentais. E são poucas as editores que atingem todo o país. Mas, se ele quer começar de alguma maneira, tentar ser conhecido, ele tem que lutar para ser publicado por uma editora paulista ou carioca.

jjLeandroO brasileiro tem um bom índice de leitura? Ele lê bem?
Márcio Souza - O Brasil tem os piores índices de leitura. Mas eu acho que não é o leitor brasileiro que não lê bem. Há uma demanda reprimida no Brasil pela carência de bibliotecas públicas. O preço do livro é muito alto para o poder aquisitivo do brasileiro. Na verdade não é o livro que é caro. O brasileiro ganha mal, nós ganhamos mal. Então tudo isso limita o acesso. Quando ocorreram fatos que melhorou um pouco o poder aquisitivo da população, as vendas dos livros aumentaram no Brasil. Isso ocorreu umas três ou quatro vezes na segunda metade do século XX. Portanto, comprovadamente do ponto de vista econômico, o brasileiro não tem acesso porque ele é pobre e o Estado não oferece alternativa.

jjLeandroObviamente o autor também é prejudicado.
Márcio Souza – É claro. Você escreve e publica num país que os leitores não têm acesso a livros...É uma situação kafkiana.


jjLeandro

domingo, 3 de junho de 2007

AMOR DE MÃE

O TEXTO QUE APRESENTO AQUI É DE UMA AMIGA A QUEM JÁ DEVIA TER RENDIDO ESSA HOMENAGEM BEM ANTES...NO DIA DAS MÃES, PARA SER EXATO. MAS PELOS CONTRATEMPOS DA VIDA ISSO NÃO ACONTECEU...POR ISSO PEÇO DESCULPAS PUBLICANDO-O AGORA. MAS O AMOR QUE EMBALA A RELAÇÃO MÃES-FILHOS PRESCINDE DE TEMPO, NÃO É EDNA?
UM ABRAÇO
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CARTA À MINHA MÃE

Na verdade, mãe, li não sei onde , que mãe é esse ser sagrado, abençoado, protegido em especial pelos anjos. Deve ser. Mãe é pra cedo, à tarde, à noite, sem descanso. Mesmo que ela tenha rosto jovem ainda e esse cheiro de talco e sabonete que você deve, o qual me dá tanta saudade.
Mãe é pedra por fora, trasgos¹ dessa vida e doce de leite por dentro, vontade de Deus. E a nossa mãe é sempre a mais bonita, a mais inteligente, a mais-mais... E você pra mim é a mais importante de todas as mães juntas: é a minha mãe! E não é só por isso que é especial, não. É porque você me ensinou coisas que talvez não estejam em nenhum manual das mães dos outros: confiar no mundo, acreditar na vida e nas pessoas, respeitar e gostar de literatura, café com leite e... tentar sempre! Ensinou-me a fazer da experiência do fracasso, uma lição para o futuro. E mais: que o amor é a coisa mais importante que existe nesse mundo e que a liberdade total que se dá aos filhos nem sempre é amor, é rendição, irresponsabilidade, descompromisso para com suas vidas. E foi por isso mesmo que você me bateu muitas vezes, mas me abraçou muito, compreendeu, perdoou e ensinou milhares de vezes mais...

Sei que se pudesse ler isso, você que é puro doce de leite, iria chorar feito eu no seu colo quando menina. Então, aproveito pra dizer que até chorar você me ensinou. Que é bom, alivia... que depois do choro, tudo vira arco-íris. E é um arco-íris que eu mando a você agora, pra que possa por em sua testa ao redor dos cabelos. Pra quando os anjos a virem passar, fiquem sabendo que você sempre foi a mãe mais amada do mundo!

...Nós estamos longe agora, de novo, como tantas vezes. E a saudade chega doendo mais que as chineladas que levei. Receba meu beijo estalado como aqueles beijos tão gostosos que te dei quando menina!

Edna Feitosa

(¹) trasgos: termo regional, uma espécie de aparição, lado ruim e duro da vida (uma espécie de "assombração" algo que incomoda a alma).
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jjLeandro