sexta-feira, 30 de março de 2007

PARA UMA AMIGA VIRTUAL


Foto: Osvaldo Barreto - (http://osvaldobarreto.blogspot.com/)
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A CINDERELA CÍNTIA


Ela morava na periferia. A vida reservava-lhe o que era comum às crianças do lugar: uma vida difícil, de vôos rasantes. Mas desde pequena, do alto do morro, os olhos cortando véus e amarras, sabia sonhar e voar alto. Lá embaixo, entre o mar e as faldas do morro, estava a pista de atletismo. Mal o sol iluminava o mundo, Cíntia punha-se à janela, sonhando. Via os atletas treinando e suas explosões de força e de dor. À tarde a viração trazia seus gritos e resmungos até ela. O que para outro poderia ser lamento e desânimo, para Cíntia era alegria e incentivo.
Um dia tomou coragem e resolveu acreditar em si mesma. Desceu o morro cedinho, com a leva de trabalhadores que se dirigiam para o centro da cidade e para a orla. Não teve vergonha de perseguir o seu sonho calçada em simples chinela de borracha, dessas que se prendem ao pé entre os dois dedos maiores.
Também não teve acanhamento de atravessar os portões do centro de treinamento e procurar o técnico de atletismo. Do morro sabia quem treinava os atletas e até seu nome: Joel. Contou a sua história e chamou-o pelo nome. Despertou imediata simpatia do treinador, que ficou intrigado por ela saber até o seu nome. Ela disse que a viração, toda tarde, trazia-o até ela. Sabia também os nomes da maioria dos atletas, e os foi enumerando um a um. Foi um momento de grande emoção. As lágrimas selaram a amizade com todos eles.
Joel olhou-a, avaliando seu potencial: era alta para seus 15 anos, corpo franzino, mas olhos sagazes e velozes, denunciando astúcia para aprender e perseverança para vencer. Pediu que desse uma volta no circuito, e ela o fez com a máxima força que tinha. “Nada mal para quem nunca correu”, disse o treinador ao final. Olhou para os pés da garota e perguntou: “Não tem tênis? Você não vai poder correr descalça”. Cíntia baixou as vistas envergonhada pela primeira vez. Os outros atletas desviaram os olhares. Joel coçou a cabeça e procurou resolver a situação, pegou-a suavemente pelo braço e conduziu-a ao vestiário. Havia lá alguns pares de tênis usados, doação da gente rica do asfalto para os atletas da comunidade. Um a um foi testando no pé de Cíntia. Estava quase desanimando quando finalmente um deles serviu. “Pronto!, esse é seu”. “Meu?”, disse a menina encantada. Ele confirmou com um aceno de cabeça. Joel explicou que deveria passar por um demorado treinamento, mas sua vaga estaria garantida entre as meninas dos 100m rasos. Nesse dia ela voltou ao morro pelo caminho das nuvens.
Foram três anos de intenso treinamento, em momento algum, como era comum entre suas parceiras de equipe, quis desistir. Havia algo por trás que a impedia: conhecia a vida no morro e todas as possibilidades que ela oferecia. Em nenhuma delas vislumbrava o êxito que o esporte lhe podia proporcionar. Estava certa que o esporte era o seu reino e Joel fora o seu príncipe encantado. Não à toa, desde o momento que voltara do vestiário com seu novo tênis as colegas passaram a chamá-la Cinderela.

jjLeandro



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quinta-feira, 29 de março de 2007

RECEIO DOS ATALHOS DESSA VIDA

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MEDO DE ME PERDER EM MIM

Na pequenez de meu vasto
Mundo interior é que mais me perco.
Aqui fora
Sou GPS e precisão
Quando a vastidão
do diminuto mundo exterior
eu torno ainda menor
e mais conhecida
Que a palma de minha mão.

jjLeandro
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quarta-feira, 28 de março de 2007

FRANCINNE, ASSIM EROS POETAS




Poeta e jornalista - Francinne Amarante http://francinneamarante.blog.uol.com.br

UMA POETA QUE DESPONTA NO OVERMUNDO pela qualidade de suas poesias e versatilidade que emprega em seus textos. Com propriedade é suave, sensual, erótica, lírica, tudo junto ou separado. Na mistura que faz com as palavras consegue extrair desse balaio poesia e prosa de primeira.
Por isso, essa justa homenagem. Quem duvidar do que digo pode ir ao linque acima que consta na leganda da foto.

Abaixo três de suas poesias.

Sanha

Os ‘oio’ de bicho
Fogueira que chama
P’ro vício do cio
Minha quentura reclama
Feitiço, feitiço!
João menino do carneirinho
Se pego essa faceira
Dona cheirosa que me azoina
Me entrego às garras na Cheia
Lua venha e clareia!
Que fure, rasgue e sangre!
Capturo a felina no laço
Que ela ruja nos meus braços
O gozo do pecado..Ah...
N’um devolvo pro dono não.
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Seja onde flor

Sei que me olhas.
Quero que me veja
Em todos os ângulos.
Vesgo, inicias em minhas nervuras
Nenhures, aqui nem ali...
Em coisa alguma.
Assim não me acharás!
Invejas minha liberdade:
Dentro, larga, estreita.
Sentes arrepios; não entendes.
Hahaha...
Vejas o agora apenas!
Nem permaneço.
Nem penso.
Nem fim.
Não estou fora, amor!
Meu coração está centro.
Minha janela abre em frestas
Não inventes uma brecha extra,
Sintas o perfume, entre!
Basta os poros sentirem,
Respires esse aroma
Não se iluda!
Minha porta esta aberta,
Toques sem culpa.
Bebas dessa seiva infinita
Pólen seu na língua minha,
Veludo, cor de Mim.
Penetre sem medo, imerso.
Hímem tal imbé é puro ímã.
Pétala a pétala transmutas o véu.
Me desvele!
Amor vamos fazer...
Implodir para explodir.
Amor, eu viro você
E você se vira,
Vira Eu, amor!
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Aguardeiro

São Fauno
Monstro fetichista
Poeta cruel
Liberta-me!
Estou em faíscas
Obscena delicadeza
Isca ávida por doar
Monástico!
Quero flores
Sinta meu perfume
Deflora-me!
Libertino paciente
Derrama-me!
Sou correnteza
Escorro morna
Com a sede da pressa
Demore frente à fresta
Beba-me!
Depois de viciado...
Esqueça-me!

Francinne Amarante
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jjLeandro em outras

CUIDADO COM DOIS CARAS DENTRO DE UM FUSQUINHA!


Foto: http://www.carrosderua.com.br/wallpapers/wallpaper_fusca_800.jpg

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CUIDADO COM DOIS CARAS DENTRO DE UM FUSQUINHA!

Todos nós temos percalços na vida. Tão maiores quanto maior a dificuldade financeira. Bem, assim era comigo na vida de estudante de jornalismo na bela Goiânia de 1980. Não era uma vida de agruras, mas não era a mamata dos boyzinhos que curtiam a praça Tamandaré pilotando os últimos modelos de veículos.
Quando a aula era no Campus, lá estava eu no ponto da avenida Araguaia, seis da manhã, para pegar o Transurb vazio pois mais tarde todo mundo invejava o conforto das sardinhas em lata. Vez ou outra, para não acostumar com a mamata, uma carona com a Lu em seu fusquinha a álcool (uma novidade à época).
Pois bem, quando era matéria eletiva, à noite na Faculdade de Educação – fazia italiano com a professora Sílvia Lage – ia a pé. Não chorem por mim – pois já choraram pela Argentina –, era perto. Eu morava na rua 24 com a Anhanguera. Era um pulo até lá.
Mas no meio desse pulo uns assaltantes me pegaram certa vez.
Havia acabado de jantar na pensão, sabem como é estudante do interior longe da família. Pois é. Saí da Anhanguera, ali na praça do Botafogo, entrei naquela rua do Edifício Paranoá, perto de onde havia feito a inscrição no CECV da UFG para fazer o vestibular de jornalismo, passaria perto da casa de minha saudosa colega Rose para pegar aquela avenida de pista dupla da Faculdade de Medicina. Pois foi ali. Não era ainda sete da noite. Veio um fusquinha (o carro popular da época) e parou diante de mim antes de eu atravessar a rua. Recuei um passo e parei sobre o meio-fio. Dois rapazes dentro do carro. O carona fez uma pergunta para pegar trouxa: “Onde fica a praça Universitária?” Em meus lábios um sorriso de mofa denunciou o meu pensamento: “Que jecas, tão perto e não sabem!”
Dei as explicações necessárias, que os dois ouviram pacientes. O agradecimento do carona foi levantar um trabuco cromado em minha cara que me fez pensar imediatamente em minha mãe. Agora, sim! Se vocês já choraram pela Argentina, rezem por mim!
Ele me disse, por certo vendo meu espanto pelo insólito agradecimento que me fazia: “Por isso vai me dar o relógio”. O matuto aqui – sim, o jeca agora era eu – ainda tentou argumentar apesar das suas irrefutáveis razões. Ele apressou o desenlace: “Anda logo senão leva um tiro”. Pronto, num instante o relógio estava em sua mão. Podia ser jeca, mas não era surdo. Ele voltou ao ataque: “Passa agora a bolsa” – disse, completando para me dissuadir de qualquer relutância – “e rápido!” Uma explicação: naquele tempo se usava muito aquelas bolsas de alça, levadas ao ombro. Quando coloquei o polegar na alça para me render à limpeza, fui salvo por uma mulher que dobrava a esquina. Os assaltantes arrancaram acelerados no pobre fusquinha.
Fiz o que manda a praxe em seguida: procurei primeiro tomar um copo de água com açúcar para refazer a macheza do filhinho de mamãe, só depois procurei uma delegacia para as formalidades do BO, que sabia não daria em nada...como realmente não deu.
Bom, a partir daí o maranhensinho aqui ficou esperto. Atenção redobrada a qualquer carro suspeito que se aproximava. Nos finais de semana com pouca gente nas ruas, quando alguém vinha no mesmo lado, imediatamente eu pulava para o outro. E assim fui escapando.
Tão condicionado eu estava que tempos depois...talvez um ano, aconteceu algo interessante que até hoje não sei qual seria o desenlace. Eu fazia boletins de notícia para a extinta Rádio Clube, ali no Universitário, na praça da Bíblia. Nesse tempo eu já morava na Alameda das Rosas, perto da rua 4, no setor Oeste. Era um domingo à tardinha, quase noite. Havia descido do ônibus na avenida Tamandaré, depois da praça, sentido Sudoeste, e ia tranqüilo para casa. Ninguém na rua. Perto de uma esquina. Novamente um fusquinha – felizmente hoje quase não existem mais – apareceu subitamente. Dois rapazes dentro. Humm! A repetição de tudo?! Pareciam boêmios a caminho de uma farra. Explico: o carona segurava um violão pelo braço fora do veículo. Reduziram a marcha com o intuito de falar comigo. Eu, alerta! Não daria sopa novamente para marginais, ainda que viessem disfarçados (Pega-se um maranhense apenas uma vez - na outra, laça-se!). Mas também não seria frouxo de correr antes da hora. Pois bem, eles reduziram a marcha e o carona afastou o violão um pouco para a frente e chamou: “Ei!”
Como se diz no Maranhão: meti o pé na carreira. Parei em casa.
Não fiquei para saber se queriam me doar o violão ou...

jjLeandro

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segunda-feira, 26 de março de 2007

NA PÁSCOA TOME CUIDADO COM O QUE DIZEM AS CRIANÇAS


ESTE ANO NÃO TEM OVO DE PÁSCOA EM CASA

Adulto continua pensando que criança é boba, ou se não boba, ao menos ingênua. As crianças evoluíram com o tempo. Na era da cibernética, são tão rápidas em absorver as transformações quanto nós adultos somos lentos em perceber isso.
Por conta disso, minha mulher caiu do cavalo na Páscoa passada; e eu junto com ela. Nosso filho de nove anos é o exemplo perfeito do que estou dizendo. O clima pascal permeava tudo: dos lares aos supermercados, da programação de tv à internet. E ele queria, claro, como presente o seu ovo de Páscoa. A mãe, como todas são, buscava cumprir rigorosamente o ritual: “O coelhinho vai pôr o seu ovinho debaixo de sua caminha, filhinho. Quando acordar domingo, ele vai estar lá”, dizia a cada cobrança dele. “Obaaaa!”, era o seu grito de entusiasmo diante da certeza do presente.
Ela foi ao supermercado sem ele, eu estava junto para pagar a minha parte no mico. Optamos por um ovo de um quilo de chocolate. Diante de uma semana de cobrança achamos que qualquer coisa menor representaria desapontamento para ele. Como de praxe, o ovo estava envolvido em papel metalizado com cores brilhantes.
Sábado à noite ele beijou-nos e não se esqueceu de uma última recomendação: “O meu ovo, não deixem o coelhinho esquecê-lo!” Sorrimos. “Pode deixar, filho. O coelhinho vai trazê-lo”.
Quando nos certificamos pela respiração compassada que ele dormia, invadimos o quarto e colocamos o ovo sob a sua cama. No outro dia bem cedinho, ouvimos o berro alto: “Manhêeeeee!!” Corremos assustados ao quarto. Ele desembrulhara o ovo, e com ele na mão, sopesava-o. Paramos diante dele com o coração aos pulos. “O que foi filho...” disse a mãe aflita.
“A senhora tem certeza que um coelho pôs esse ovo?”. Ela gaguejou: “Bem...foi um coelhinho sim.Não foi, meu bem?” Tive que concordar com um aceno de cabeça e um sorriso insosso vestido em meu pijama de bolinhas.
Ele olhou-nos intrigado como quem duvida da inteligência dos adultos. “Eu acho que não!”, disse taxativo. “Na próxima Páscoa não quero que coelho algum venha colocar ovo debaixo de minha cama, viu?”, advertiu-nos. Entreolhamo-nos intrigados: “Não?!” “Claro que não. Um coelhinho não põe ovo grandão assim. Aposto que isso aqui é ovo de Tiranossauro Rex, e eu não quero ser devorado enquanto um bichão desses vem pôr ovo aqui, entendido?”
Balançamos as cabeças contrafeitos, e saímos.
jjLeandro
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NÃO AO AQUECIMENTO GLOBAL




O DESEJO DA TERRA

A terra
não tem vocação pra Lua.
Não quer girar
fria fria
e completamente nua.
Também não quer ser chama
como o Sol que gira atônito e incandescente.
Deseja ser eterno presente:
bela e cálida
como sedução de mulher,
amando e abrigando a todos nós,
isso é o que ela quer.

jjLeandro

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domingo, 11 de março de 2007

ALGUMAS CANÇÕES


Foto: Colhida da Internet



DUAS COMPOSIÇÕES MINHAS

Se algum músico topar, pode musicá-las.

NUNCA PARTIU


Desejo o passado
como se fosse o presente.
Pois a vida da gente
não pode sofrer.

Tampouco eu esqueço
que via no futuro
um porto seguro,
para mim e você.

Mas o tal do presente
é quem tudo destrói.
Abortou o futuro,
construiu um muro,
pra nem mais o passado
me pertencer.

Agora é um tal de doer,
de doer todo dia
uma saudade que tenho,
que nem a magia
me faz esquecer.

jjLeandro


......


FACE AO FIM DO PRANTO

Ache...
Ache
Nesse mundo conturbado
A minha face

Ache...
Ache
E me diga por que mudei
Porque eu,
Nem eu sei.

Sei
Sei
Apenas que do riso
Passei ao pranto.
E hoje choro...
Choro tanto.

Mas vejo
Vejo com tristeza
que não estou
sozinho.
As lágrimas que eu choro
Inundam os caminhos.

Não sei...
Não sei quando isso vai
acabar.
Talvez quando não houver
Mais faces
E nem nesse mundo
Quem as ache.


jjLeandro
..........



EU E MEU CACHORRO LOUCO


Eu e meu cachorro louco
Nos apaixonamos
Os dois por você.
Eu dizia para ele
Saia dessa parada
Deixa de morder.

Ele rosnava pra mim
E era sincero “esse osso
Eu não largo”.
Toda conquista difícil
Tem no seu começo um travo
Amargo.

Mas depois que a gente ama
Vai bem rápido ao céu.
É que o gosto amargo
Se transforma logo num
favo de mel.

Eu morrendo de ciúmes
Grito aos quatro ventos
“O que ela viu
Nesse cachorro sarnento
Que são milhares iguais
Pelo meu Brasil.”

Ela nada respondia
Era só beijos por cima de beijo.
E eu morrendo de raiva
Cada vez mais louco,
Louco de desejo.

Quando dei por mim
Tive que admitir
Ter perdido a amada,
Que o meu cachorro louco
Havia roubado minha namorada.

Parti pra outra
pois quem fica parado
Nessa vida é poste.
Era hora de desencanar
Para que nosso caso
Não acabasse em morte.

E como eu ainda
freqüentava muito
a casa dela.
Terminei me afeiçoando
E morrendo de amores
Por sua cadela.

E assim ficou tudo resolvido
Saíamos à noite
Por essa cidade
Pra curtir a balada
Ela e meu cachorro louco
E eu com sua cadela
Como minha amada.


jjLeandro

......


quarta-feira, 7 de março de 2007

A PROPÓSITO DE UM PEDIDO NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Foto: Colhida da Internet


TAÍ ALESSANDRA, O SEU PEDIDO, QUE É O DE TODAS AS MULHERES!

Quero neste dia 8 de março saudar todas as mulheres do mundo com poesias, o meu mister, à mãe, mulher e amante.

FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Mãe


Mulher maiúscula
acalenta
os dois filhos vogais
com o cobertor do til.


........

Diva


Não se origina em vós estrelas,
o prazer que o amante respira
no rosto da amada?”
Rilke, Terceira Elegia



Sublime em ti
é a beleza que permanece
além do tempo
que a contemplação dura.
Não acho em ti
um único defeito
por mais que a visão
se esforce na procura.


Ignoro a origem
da tua formosura.
E a minha admiração
repete o que a vida ensina:
se nada é bastante
para explicá-la
deve ter sido obra
da mão divina.


Entretanto melhor
do que contemplá-la
é vislumbrar coisas
mais práticas
e contar nos dedos
o quanto falta para amá-la
com o rigor das contas matemáticas.


....

Desejos


Meus olhos nunca te viram,
creio, mas te sentem.
Minha boca nunca te beijou
mas reclama com ardor
o beijo ausente.

Meu corpo nunca te amou.
Mas é como se te possuísse todo dia.
Mesmo que jamais existisses, te inventaria.
Não és miragem, posto que vives em mim;
Se nunca te tivesse pressentido,
Não te desejaria assim.